Opinião - "ARREPENDA-SE"

ARREPENDA-SE
Por Bernardo Shimidt Penna*


É bastante comum ouvirmos pessoas, sobretudo em entrevistas, dizerem que “não me arrependo de nada”. Ou ainda: “só me arrependo do que não fiz”. Embora tenham se tornado clichês, trazem uma gigantesca carga de soberba.
O festejado dicionário Aurélio define arrepender como “sentir mágoa ou pesar por falta ou erro cometido; Mudar de procedimento, de parecer, de pensamento.”Ora, será que esses que afirmam não se arrepender de nada, consideram que tudo que fizeram foi bom ou certo? Não erraram, nem nunca mudaram de comportamento ou pensamento?
Não reconhecer os erros é lamentável e desastroso. Infelizmente pouca gente os reconhece, em que pesem os inúmeros erros cometidos dia a dia. Pior ainda é quando essas condutas atingem terceiros. Será que os pedantes “não-arrependidos” passam ao largo também dos atos que praticaram e que vieram a prejudicar outrem?
Aqueles presunçosos que não se arrependem de nada perdem a oportunidade de doravante, evita-los. Reconhecer o erro e conserta-lo não deve ser motivo de vergonha e sim de nobreza e crescimento.
Arrepender-se pode significar um bom caminho. No Direito, por exemplo, o arrependimento eficaz, que significa a prática de ato que impeça o resultado crime, mesmo depois de cometidos os atos de sua execução, pode gerar o não reconhecimento da conduta como criminosa ou ainda afastar a punibilidade do agente, dependendo da interpretação. De todo modo é uma boa opção arrepender-se a tempo.
Podem cair ainda em um paradoxo aqueles que atestam se arrepender só do que não fizeram. Se suas omissões geraram desconforto e são, reconhecidamente, causas de arrependimento, suas ações correlatas devem ter sido desastrosas, portanto. Se erraram ao não fazer alguma coisa, como podem ter acertado na conduta inversa? Isso eles não explicam.
Como o arrependimento está umbilicalmente ligado ao reconhecimento dos erros e à mudança de postura, parece-nos mais interessante – e melhor para o desenvolvimento social - deixarmos de lado esse “compromisso” com o erro em nome de uma inflexibilidade ou falta de humildade em se reconhecer que todo mundo erra, inclusive você, que não se arrepende.


*Advogado e Professor do Curso de Direito da UNESC/Cacoal

Comentários

Jéssica Lays disse…
Este comentário foi removido pelo autor.
Jéssica Lays disse…
Relevante a intenção do texto, adorei.
Mas então professor nos abandonaste na Daniel Berg. Por quê? Espero resposta satisfatória. Abraços.
Anônimo disse…
Creio que arrepender-se quando erramos é deveras humano e deveria ser uma prática comum...
Teoliterias disse…
Bernardo, parabéns pelo texto; curto e eficiente; como todo bom antídoto ao contrasenso;
Anônimo disse…
Espero que de fato "arrepender-se" seja motivo de reflexão!!
Atitudes que evidenciam a nossa mudança de mentalidade.