VIAGEM BRASÍLIA-DF (JANEIRO/2005) - MEMORIAL JK: MEMÓRIA DE UM PRESIDENTE POP

Viagem realizada em 2006, de Cacoal-RO ao Distrito Federal, conhecendo elementos históricos e culturais, bem como políticos de nossa Capital Federal. Neste texto demarco o impacto que tive ao visitar o Memorial JK e entender um pouco da história da nossa nação. 


Uma análise pouco profunda e antecipada do cenário político da década de 50 em todo mundo, percebe-se a grande força motriz do novo capitalismo e da tendência ideológica de vender um crescimento: a reconstrução de países arrasados pela II guerra mundial, os ciclos de empréstimos que os países mais ricos criavam em forma de benefícios fiscais e manutenção de contas em construção civil e outras situações amplamente frutíferas ao crescimento econômico. Os Estados Unidos vivem sua efervescência com o liberalismo, que mais tinha a ver com a forma de vender aquilo que estava sendo produzido em massa nos pátios das indústrias que inflavam no seio americano. Neste momento deixa-se a questão dos produtos industrializados em primeira escala, e inicia-se um processo de venda de marcas e conceitos. Inicia-se a fase moderna da pesquisa de mercado, da propaganda, das estratégias de Marketing, da publicidade, das logomarcas, dos visual banners, dos outdoors e tudo que compila o mundo do verbal e não-verbal como instrumento de vender o produto mais caro, o conceito. Neste clima de pasteurização comercial / industrial, neste cenário multicolorido das imagens e domínio ideológico, a política também ganha suas matizes. O marco zero deste fenômeno mercadológico / ideológico na política foi o confronto (debate) entre Nixon e Kennedy em 26 de setembro de 1960. Kennedy, bronzeado, alto e apresentando-se esportista, debatia com Nixon, pálido, cansado do longo tempo de pé, suando muito. Desta imagem iconoclasta, percebe-se o uso das escolhas: um debate em pé, prinvilegiaria providencialmente Kennedy. Sua figura sorridente e forte daria a esperança de um temperamento seguro e incisivo nas questões cruciais aos americanos. Deste ponto em diante, mesmo que de menor intensidade em alguns momentos, a imagem, o tratamento, os modos, sempre foram alvos de observações técnicas por parte de especialistas no circo chamado "corrida eleitoral". No Brasil, JK pode ser considerado o precursor deste modelo de marketing político, visto que segue corrente contrária aos movimentos ideológicos que dominavam o poder: forças como o autoritarismo da primeira fase de Getúlio ou as descendências imperialistas pseudo republicanas dos patriarcas que sempre condiziram os fios desencapados da política nacional. JK abusava da herança populista herdada da condição proletária, abusava do texto sobre o contexto, da criação projetista de cenários desenvolvimentistas, e de muitos outros recursos técnicos que deveriam ser novamente estudados pelas teorias oportunas. Mas o que realmente forma cartesiano na questão, é a força com que seu nome passou de presidente comum, com picos de méritos e problemas, para o panteão dos heróis nacionais, sobrepujando hoje, à condição de futuro mito. Sua mitificação está próxima, e alguns fatores ajudam para a criação deste "futuro quase mito". Eis alguns pontos:

1. Seu nome é clássico; possui a sofisticação necessária aos heróis com a possível semelhança indicial de nobreza, necessidade básica para a saida da vala comum. Bem como sua abreviação (JK) é conceitual e ao mesmo tempo naturalmente projetada como logomarca; seu aspecto visual evidencia formas e coincidências simétricas; sua sonoridade e ao mesmo tempo clássica e hi-tech.
2. Possui todo um amplo material para estudo; a família doou muitas coisas (ou quase todas), construiu um memorial em forma de fundação onde repousa seu túmulo; as pessoas podem visitá-lo (como eu fiz, abaixo seguem algumas fotos); isto estimula a "institucionalização" do nome do candidato à mito, pois edifica uma legitimação, ou a verdade representativa de sua proximidade com o público e enfim com o universal.
3. Vinculou sua história pessoal e profissional à fundação de algo grandioso, a cidade de Brasília, que como foi projetada por sobre o moderno, o arrojado, a vanguarda e o clássico, bem como com toda uma lógica simbólica de representações (palácios, praça dos três poderes, flâmula, panteão, etc)fecunda a fusão em uma só imagem: JK é Brasília e vice-versa. Ao nunca esquecermos de Brasília, nunca esqueceremos de JK
4. Morreu de maneira trágica; em um acidente automobilístico na via dutra em 1976. Em semiótica chamamos o fim trágico de um movimento fórico (uma personagem por exemplo) em "lacunas do vir a ser"; a mente histórica, no anseio de completar a trajetória do herói, cria o que possivelmente "viria a ser"; nesta incapacidade de re-elaboração representativa, fica sempre a eterna expectativa de que ele tinha muito ainda por fazer.
5. E último ponto: a mini-série da Globo procura, estrategicamente, criar um JK meteórico, de carreira apocalíptica e grandiosa. Seu porte é distinto e suas ações enobrecidas pela mãe professorinha pobre mas digna. Sua história (e olhe a necessidade dela) desde criança até a juventude profissional, onde ele paresenta-se trabalhador, consciente incansável das dores alheias, produz uma sensação de que não há em política algo torpe que ele tenha feito. Não deixa marcas em sua carreira impoluta, mesmo que manchas de enriquecimento ilícito apareçam.
Bem, por estes pontos devemos entender que não existe movimento sem espaço e tempo; não existe uma consequência em causa; a pergunta que não quer calar: a Globo possui um projeto de criação mítica de JK, assim como o fez de Senna? bem, vejamos as fotos que tirei em Janeiro da minha visita à Brasília.



















QUERO MANDAR UM GRANDE ABRAÇO PARA OS ACADÊMICOS DO 7º PERÍODO DE LETRAS, QUE ESTÃO NESTA RETA FINAL, UMA RETA ÁRDUA MAS ENGRANDECEDORA!

Comentários

Anônimo disse…
Vale lembrar o slogan "50 anos em 5" advindo da aceleração da industrialização, que foi uma das grandes metas desse inovador governo, que retrata um dos tantos diferenciais tragos por e com esse governo. Que culto isso né... nem pareço eu...
Anônimo disse…
Priscilla;; valeu pelo lembrete;
realmente o slogan foi importantíssimo para licerçar a era desenvolvimentista;
abraços
Anônimo disse…
" Meu sonho é viver e morrer em um país em liberdade." (JK)
Palavras sábias de um candidato a Presidência da República de um país que acabava de presenciar uma II guerra.
Valeu professor!
Um abraço pra todo pessoal de Letras.
Anônimo disse…
Valeu Melina;
bem lembrada citação;
um grande abraço;
Anônimo disse…
JK quebra a idéia do determinismo, já que é oriundo de classe baixa e, todavia, conseguiu chegar à Presidência com suor e louvor. Será que seria possível comparar a trajetória dele com a de Lula...
Será que a história nos poupou detalhes da memória de JK, persistindo o Herói?
Anônimo disse…
Professor, a mensagem anônimo foi minha.
Eva 7 º Letras.
Anônimo disse…
Eva; valeu pelo comentário; a história não nos poupou detalhes; mas a divulgação e veiculação dessa história é bastante seletiva por parte da mídia.