CULTURA AMBIENTAL: O EDUCOSISTEMA

CULTURA AMBIENTAL: O EDUCOSISTEMA
Rômulo Giacome
O meio ambiente, antes de um problema material, é de ordem cultural. Não é difícil perceber que os efeitos e desgastes ambientais já eram visíveis pelos cientistas a muitas décadas.
Mas o que isto afetaria o nosso sistema cultural? Quais os efeitos destas sequelas em uma comunidade global que experimenta o sabor da economia de mercado? Os bens (in duráveis) que assolam(vam) nosso universo vetorial de vontades e desejos seriam refeitos? Absortos em nosso modo de vida não poderíamos ter nada atrapalhando. O ideal de modernidade e conforto está totalmente vinculado ao ideal de excessos, exageros e muito lixo. Uma sociedade volátil que constrói valores volúveis e solúveis, não consegue sobreviver sem poluir. O lixo é o código da grandiosidade globalizada, encartada nos ícones do merchandising e da publicidade a todo custo. Assim, faz sentido ouvirmos falar em efeito estufa desde a década de 80, mas nunca uma criança ou pai de família discutir este assunto.

Neste novo cenário que se dedobra sobre o absurdo do fim, o novo "aon" é tomado por um sentimento de tempo perdido, uma espécie de força repressiva que busca anular a consciência ambiental em prol de uma práxis mais acentuada.
O que muda hoje?

A presença maciça de uma cultura ambiental revelada por entre os dedos de uma indústria cultural poderosa, deve ser analisada também pela possibilidade esclarecedora dos ideais que norteiam qualquer projeto global de crescimeto. Pode ser suspeito e deve ser analisado por uma ótica mais ideológica do que político / ético / moral. Não é escopo deste pequeno texto esta inquieta suspeita. O nosso trabalho tem o fito de apresentar, em linhas gerais, o processo de linguagem empreendido na comunicação ecológica, de forma que a preocupação ambiental afetou nosso mundo.

A primeira etapa deste contínuo processo de esclarecimento ambiental parte da construção de uma "linguagem especial" para evocar e presentificar esta noção abstrata de meio ambiente. Conceitualmente o termo meio ambiente seria de difícil cognição em todos os seus meandros. Nao que o devesse ser, mas que é preciso uma visão lúdica e icônica de meio ambiente, para a posteriori termos qualquer ação sobre ele. Em outras palavras, a linguagem sofisticada e semiótica da propaganda e seus recursos conseguem produzir um efeito sinestésico e memorial de meio ambiente, que é o primeiro passo rumo ao seu entendimento e valoração.

A segunda etapa é a inserção desta linguagem especial sobre o meio ambiente acoplada à linguagem universal da mídia. Uma vez lá, esta linguagem irá proliferar seu vocabulário a todos, contaminando lexicograficamente um público de massa. Palavras como preservação, ecosistema, proteção, são nuances deste processo.

A terceira etapa é o entendimento que qualquer valor (axiológico) que uma sociedade constrói sobre algo é fruto de uma sugestão advinda da indústria cultural, instrumentalizada por seus aparelhos ideológios e midiáticos. Logo, o sentimento protetivo e restaurador que temos sobre uma árvore é a construção valorativa evocada por meio de uma sugestao ou atribuição que alguém efetua. O nacionalismo, ufanismo e xenofobismo são valores constituídos por meio de propagandas ideológicas, não necessariamente valores inerentes ao ser.

Assim, construída uma cultura ambiental por meio da linguagem e dos seus recursos modernos, tem-se a consolidação de que, agregado ao vocabulário, oculta-se uma ação. Portanto, quando assimilamos culturalmente uma palavra, assimilamos com ela sua efetivação. Lexicografias verbais tais quais: proteção, preservação, manutenção, conservação e economia não são só palavras, são efetivações interventivas sobre a realidade imediata.

Em suma, uma revolução prática parte do domínio da linguagem e dos seus mecanismos modernos de comunicação e, principalmente, de um educosistema, ou seja, uma construção efetiva cultural de valores dentro da escola.

Este sistema de valores será fruto da própria percepçao da realidade imediata da criança, que já preparada cognitivamente, irá celebrar o aprender a preservar e proteger.

Este aprender ambiental é o próprio nascer no contexto constelatório de referências e co-referências sócio / ambientais efetivas. É sobreexistir em um universo que troca códigos vocabulares, efetua permutas de valores ecologicamente satisfatórios.
De um modo geral, fecha sobre a educação nacional e global a necessidade de implementação de uma nova linguagem, com novo vocabulário, assim como novos pressupostos cognitivos e metodológicos para atingir um objetivo que realmente toque o imediato real.

Comentários

"Para falar ao vento, bastam palavras, para falar ao coração são necessárias obras", já dizia Pe. Antônio Vieira, nos alertando. Uma revolução na maneira de se pensar o meio ambiente se fará por palavras sim, mas estas tem que vir acompanhadas de atitudes. O que geralmente acontece é uma grande eloquência ao se falar no tema, que não se efetivam em práticas protecionistas reais. Ouve-se dizer nos meios de comunicação a todo instante que é necessário resguardar o planeta da exploração predatória do homem, como se este "homem" fosse um ser alienígena, e não se tratasse de nós mesmos. Não falamos na primeira pessoa, sempre dizemos que a humanidade, os homens, as crianças... em suma, os "outros" é que devem cuidar do planeta. Mas não posso deixar de dizer, meu amigo, que uma grande mudança em breve vai acontecer... e estamos começando pelo discurso, levando às nossas crianças esses vocábulos para que as mesmas os assimilem, incentivando-as a pô-los em prática, criando assim uma geração de protetores da Terra. Mas façamos também a nossa parte, agora, não deixemos toda a carga nas costas das futuras gerações. Não incorramos no mesmo erro dos que nos antecederam. (Perdão pelo excesso...)
Teoliterias disse…
muito bom seu comentário; é isso mesmo; construímos um processo de deslocamento do foco das responsabilidades, criando uma presunçosa sensação de que as gerações futuras irão mudar o que já foi feito de desgaste ambiental hoje; este sistema consciente de transmissão de responsabilidades assola a raça humana e o indivíduo em si a alguns séculos. No entanto, o meu texto procura ressaltar que está na educação o ambiente saudável para proliferação de valores conscientes sobre o meio ambiente; somos uma sociedade fundada sobre o eixo do ter a qualquer custo; quando o panorama do "ceder" entre em tela, não estamos preparados para entendê-lo; mudar valores é sobretudo mudar ações; fazer por si mesmo tem mais resultados do que fazer coercitivamente;
abraços e valeu pelo ótimo comentário;