LITERATURA DE CORDEL - CORDEL DO "BIG BROTHER"


A simplicidade da Literatura Cordel advém de sua estrutura simples, musical e da monotemática narrativa construída nos livros pendurados em varais.
A representatividade do Cordel está ligado à construção de grandes mitos e símbolos da cultura nordestina, catalizados e compilados a partir da mescla religiosiosa e cangaceira de sobreexistir do sertanejo. Patativa do assaré é um dos grandes representantes desta cultura. Inicialmente, neste post, eu iria PUBLICAR o texto do poeta cordelista Antônio Carlos de Oliveira Barreto, uma grande dica da minha orientanda Nicy. Mas devo também fazer uma homenagem ao grande poeta Zé da Luz. Com o seu irrenarrável poema AI SE SESSE. Imortalizado e eternizado pelo maravilhoso CORDEL DO FOGO ENCANTADO. Leiam que irão gostar. É uma crítica popular ao BIG BROTHER da Globo, mas que assinala fortes verdades.
Acessem a página deste autor sagaz e mantenedor da cultura do cordel:

http://www.barretocordel.wordpress.com/

http://barretocordel.blogspot.com/2010/01/big-brother-brasil-um-programa-imbecil_21.html#comments


Autor: Antonio Barreto, natural de Santa Bárbara-BA,
residente em Salvador.

Curtir o Pedro Bial
E sentir tanta alegria
É sinal de que você
O mau-gosto aprecia
Dá valor ao que é banal
É preguiçoso mental
E adora baixaria.

Há muito tempo não vejo
Um programa tão ‘fuleiro’
Produzido pela Globo
Visando Ibope e dinheiro
Que além de alienar
Vai por certo atrofiar
A mente do brasileiro.

Me refiro ao brasileiro
Que está em formação
E precisa evoluir
Através da Educação
Mas se torna um refém
Iletrado, ‘zé-ninguém’
Um escravo da ilusão.

Em frente à televisão
Lá está toda a família
Longe da realidade
Onde a bobagem fervilha
Não sabendo essa gente
Desprovida e inocente
Desta enorme ‘armadilha’.

Cuidado, Pedro Bial
Chega de esculhambação
Respeite o trabalhador
Dessa sofrida Nação
Deixe de chamar de heróis
Essas girls e esses boys
Que têm cara de bundão.

O seu pai e a sua mãe,
Querido Pedro Bial,
São verdadeiros heróis
E merecem nosso aval
Pois tiveram que lutar
Pra manter e te educar
Com esforço especial.

Muitos já se sentem mal
Com seu discurso vazio.
Pessoas inteligentes
Se enchem de calafrio
Porque quando você fala
A sua palavra é bala
A ferir o nosso brio.

Um país como Brasil
Carente de educação
Precisa de gente grande
Para dar boa lição
Mas você na rede Globo
Faz esse papel de bobo
Enganando a Nação.

Respeite, Pedro Bienal
Nosso povo brasileiro
Que acorda de madrugada
E trabalha o dia inteiro
Dar muito duro, anda rouco
Paga impostos, ganha pouco:
Povo HERÓI, povo guerreiro.

Enquanto a sociedade
Neste momento atual
Se preocupa com a crise
Econômica e social
Você precisa entender
Que queremos aprender
Algo sério – não banal.

Esse programa da Globo
Vem nos mostrar sem engano
Que tudo que ali ocorre
Parece um zoológico humano
Onde impera a esperteza
A malandragem, a baixeza:
Um cenário sub-humano.

A moral e a inteligência
Não são mais valorizadas.
Os “heróis” protagonizam
Um mundo de palhaçadas
Sem critério e sem ética
Em que vaidade e estética
São muito mais que louvadas.

Não se vê força poética
Nem projeto educativo.
Um mar de vulgaridade
Já tornou-se imperativo.
O que se vê realmente
É um programa deprimente
Sem nenhum objetivo.

Talvez haja objetivo
“professor”, Pedro Bial
O que vocês tão querendo
É injetar o banal
Deseducando o Brasil
Nesse Big Brother vil
De lavagem cerebral.

Isso é um desserviço
Mal exemplo à juventude
Que precisa de esperança
Educação e atitude
Porém a mediocridade
Unida à banalidade
Faz com que ninguém estude.

É grande o constrangimento
De pessoas confinadas
Num espaço luxuoso
Curtindo todas baladas:
Corpos “belos” na piscina
A gastar adrenalina:
Nesse mar de palhaçadas.

Se a intenção da Globo
É de nos “emburrecer”
Deixando o povo demente
Refém do seu poder:
Pois saiba que a exceção
(Amantes da educação)
Vai contestar a valer.

A você, Pedro Bial
Um mercador da ilusão
Junto a poderosa Globo
Que conduz nossa Nação
Eu lhe peço esse favor:
Reflita no seu labor
E escute seu coração.

E vocês caros irmãos
Que estão nessa cegueira
Não façam mais ligações
Apoiando essa besteira.
Não deem sua grana à Globo
Isso é papel de bobo:
Fujam dessa baboseira.

E quando chegar ao fim
Desse Big Brother vil
Que em nada contribui
Para o povo varonil
Ninguém vai sentir saudade:
Quem lucra é a sociedade
Do nosso querido Brasil.

E saiba, caro leitor
Que nós somos os culpados
Porque sai do nosso bolso
Esses milhões desejados
Que são ligações diárias
Bastante desnecessárias
Pra esses desocupados.

A loja do BBB
Vendendo só porcaria
Enganando muita gente
Que logo se contagia
Com tanta futilidade
Um mar de vulgaridade
Que nunca terá valia.

Chega de vulgaridade
E apelo sexual.
Não somos só futebol,
baixaria e carnaval.
Queremos Educação
E também evolução
No mundo espiritual.

Cadê a cidadania
Dos nossos educadores
Dos alunos, dos políticos
Poetas, trabalhadores?
Seremos sempre enganados
e vamos ficar calados
diante de enganadores?

Barreto termina assim
Alertando ao Bial:
Reveja logo esse equívoco
Reaja à força do mal…
Eleve o seu coração
Tomando uma decisão
Ou então: siga, animal...

FIM

Salvador, 16 de janeiro de 2010


ZÉ DA LUZ

(pra queles qui acha que pra falar di amor tem qui fala difirci)

Se um dia nois se gostasse
Se um dia nois se queresse
Se nois dois se empareasse
Se juntim nois dois vivesse
Se juntim nois dois morasse
Se juntim nois dois drumisse
Se juntim nois dois morresse
Se pro céu nois assubisse
Mas porém acontecesse de São Pedro não abrisse
a porta do céu e fosse te dizer qualquer tulice
E se eu me arriminasse
E tu cum eu insistisse pra que eu me arresolvesse
E a minha faca puxasse
E o bucho do céu furasse
Tarvês que nois dois ficasse
Tarvês que nois dois caisse
E o céu furado arriasse e as virgi toda fugisse


Comentários

Everaldo Braun disse…
Nos dias atuais, poucas pessoas conseguem ver o que o Autor Antonio Barreto traz em seu "Cordel do Big Brother".
Não só o programa referido mas quase toda grade de programação(senão toda) da Rede Globo traz uma enorme carga de "emburrecimento" e alienação da população brasileira.Enquanto os telejornais globais tentam mostrar inconformismo com os fatos sociais, suas tele-novelas declaram uma verdadeira guerra contra a família que é a base de toda sociedade. Isto sem falar de outros valores que é sutilmente enfiado goela abaixo através de mensagens subliminares.
No ano de 2.002 Maurício de Sousa foi muito feliz em sua ilustração que recebeu o título de "Sombras da Vida"; na minha concepçãp é O mais fiel retrato social brasileiro. Infelizmente.
Aproveito o espaço para deixar um forte abraço ao Prof. Rômulo, e parabenizar pelo brilhante trabalho desenvolvido na UNESC.

Everaldo Braun
Acadêmico de Direito.
Everaldo Braun disse…
Ah, desculpe!
Para quem quizer ver a ilustração de Maurício de Souza, segue o link:

http://www.scribd.com/doc/11810148/Mauricio-de-Souza-Turma-Da-Monica-O-Mito-Da-Caverna-de-Platao

Abç.
Teoliterias disse…
Valeu pelo comentário Everaldo, e grato por passar por aqui; realmente a televisão, principalmente nas grades de programacção comercial, como Globo e outras, tem proferido discursos vazios, carregados de alienação; é uma ideologia vazia e que compromete a educação brasileira; parece um plano para distanciar as pessoas de suas raízes e valores e diluir o interesse em aprender, implantando um regime de letargia e prostração; abraços
Nicy disse…
Valew pela "deixa" prof. achei esse "Cordel do Big Brother" muito interesante...Aff! O pior te tudo é que o Big Brother dá audiência...!!
é lamentável...

Abração!
Unknown disse…
...contudo, digo que é INTERESSANTE e não interesante...
Teoliterias disse…
Valeu Nicy

obrgado pela dica

um grande abraço
Fabrício Andrade disse…
Rômulo, o cara arrebebentou. Disse tudo de um modo muitíssimo criativo. Por outro lado, ele deve ter visto algumas vezes o programa para fazer juízo tão crítico, né? E a poesia do Zé da Luz é fantástica. Esses textos são mais a minha cara. Abração.
Thonny Hawany disse…
Quem disse que a arte só fala sobre as coisas boas da vida? Ela fala sobre tudo. O cordel, que tinha a função de veicular notícias no passado, hoje, tem, além do mais, uma função crítica das ações do homem em sociedade. E sua literariedade está no fato da verossimilhança, no fio tênue entre a ficção e a realidade. Muito bom o texto. Mais uma vez, parabéns, amigo Rômulo.