Recomendações Culturais: BERNARDO CARVALHO (Livro), VIOLINS (Música);

NOVE NOITES - Bernardo Carvalho
by Rômulo


A obsessão de pesquisar sobre um antropólogo perdido no vale do Xingu; uma notícia de jornal que inaugura e propicia esta pesquisa profunda em busca da causa de sua morte; cartas e resquícios de memória que ficaram presentes em alguns personagens após 69 anos do ocorrido e o momento do narrador; um narrador real (?), que mostra a busca pelas pegadas; que apresenta suas indiossincrazias em relação ao modelo de Buell Quen (o antropólogo) e o seu pai; Assim começamos a construir os elos de uma obra que mistura realidade, ficção, subjetividade, memória e sensações: onde estará a verdade? Entrevistas com pessoas relacionadas ao fato da morte de Buell, visitas à museus, imersão na tribo Khahô em busca do túmulo do antropólogo; a visão do rio Tocantins; a leitura de cartas que provavelmente foram escritas por Buell e entregues aos seus familiares e amigos; um imenso quebra-cabeça em busca de descortinar a morte do pesquisador indígena;
Bem, este é um romance contemporâneo. Este é um romance polifônico, segundo nosso grande Bahktin. Um romance que se constrói sobre o olhar do leitor, naturalmente sendo um texto de construção do próprio leitor. As várias vozes, relatos e fontes de informação não constrói um enredo; constrói vários enredos possíveis, várias causas da morte e possibilidades de interpretações; neste expectativa do possível, até a verissimilhança foca deformada. "coisas que ouvi e coisas que inventei". Diz o narrador de algumas cartas.
Recomendo a leitura deste romance. Bernardo consegue sintetizar bem as várias vozes textuais com um nexo fabular importante: a alteridade, a vivência em grupo e os dilemas sociais e éticos da pesquisa antropológica.

VIOLINS - "Grandes Infiéis"
by Rômulo Giacome
Falta Criatividade no Rock brasileiro dos últimos anos? Não. Você é que conhece pouco.
Se tem algumas bandas de rock que valem a pena conhecer, esta é sem dúvida uma. "Grandes infiéis" é o segundo disco da banda goiana, que tende ao uso da usina de força da guitarra e arranjos sólidos para remeter sua mensagem. Logo na abertura do disco, uma paulada em "Hans"; paredes sólidas em um arranjo forte de guitarra e baixo. Quase shoegazer, um peso diferenciado no nosso universo do rock nacional. A segunda já é um clássico da banda. "Il Maledito" tem peso e levada. As alternâncias rítmicas marcam o seu poder sonoro. A bateria e o riff de guitarra elétrica constroem uma identidade essencial para a canção, seguida do peso Doom Metal, quase Quens of the stone age, eletrizante. " que me mantém é o contato com o inferno / que retém todo o meu sentimento". Neste disco Violins demonstra uma pequena crise com as questões religiosas. Algumas dúvidas e problemas demonstram este conflito poético que demarca bons momentos nas letras. "Prefiro secar sob o sol do cerrado / a dizer que estava errado". Uma referência improvável a Canudos. "Fiz de tudo para achar seu sinal em mim / mas me desculpe se eu não posso te sentir"."Glória" é mais melodiosa, mas continua com o ataque da bateria e do violão elétrico. Ela é rápida e aberta, sonora. Não há peso do baixo, mas energia no ritmo e nos agudos das cordas. "Atriz" tem excelente ritmo e levada, com maior tensão melódica, traduz a aflição e angústia da mentira revelada na própria metáfora do título. A mulher amada e sua ambiguidade. Também está emulada por um peso metal. Um dos grandes elementos que me lavaram a indicar Violins foi a correspondência de um vocal plano, claro e belo, com uma cozinha atuante, intensa e variada, com toques metal e new metal; atrelado a isto tudo, belas melodias e excelentes construções rítmicas. Não há tentativa de mistura. Há a tentativa de fazer um bom rock and roll, com peso e mensagem. Em "ensaio sobre a poligamia" as variações são tantas que possibilitam ver feiches de influência no antigo e novo rock; até black sabath dos últimos discos. No entanto, a partir de "Vendedor de Rins", "SOS", "Matusalém" e "Angelus" o álbum constrói sua verve; letras pincelando sentimentos e forma de amar, nuances subjetivas da realidade imediata com metáforas claras e nítidas; o poder critativo da banda toma forma em belíssicos refrões e sacadas entre melodia e letra; são canções fortes e constróem o nosso bom e velho imaginário Pop. "O estranho é como eu quis / Ver o entardecer assim como eu nunca fiz / Sóbrio e muito bem assim". Destaco "SOS" como uma grande canção do disco . Contém os elementos necessários para ser belíssima. Um arranjo bem feito e uma excelente linha harmônica entre os intrumentos acústicos. Uma leve presença do som dos anos 90 e Renato Russo. Inicia tocante e depois apresenta-se forte, pancada melódica. Recomendo. Uma outra característica forte do Violins é buscar timbres sintetizados da guitarra com projeções pop da linhagem de Sondgardem dos bons tempos. Pra quem quer vibrar com chuvas de riffs e sacadas criativas de guitarra, mas também quer qualidade vocal, diversidade ritmica e boas letras, VIOLINS.

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