TÓPICO GRAMATICAL 3ª EDIÇÃO - A IMPORTÂNCIA DA REVISÃO TEXTUAL

By ELISANDRO FÉLIX DE LIMA

Todo e qualquer texto deve estar sempre sujeito a revisão, isto é, a revisão textual não pode estar restrita somente aos textos, científicos, jornalísticos, didáticos etc. Mesmo um bilhete informal deve receber uma releitura após sua escrita, até porque, ninguém está livre do "erro". A releitura faz parte do processo da revisão. Às vezes, um pequeno recado em um recorte de papel pode ser mal interpretado, por causa de uma palavra ou expressão escrita equivocadamente, isso para não dizer "errada". Quando o emissor de um texto, seja qual for o tipo de texto, emite uma informação escrita, ele está a comunicar com um receptor. Se a informação contiver algum tipo de "erro" em relação à coerência ou coesão, a comunicação poderá ser comprometida. Quando o "erro" estiver relacionado às questões gramaticais, mesmo que não comprometa a informação, o emissor estará sujeito a ouvir pilhérias, se não, pelo menos ficar mal falado. A revisão textual poderá ser feita sempre pelo próprio emissor, porém quando o texto se tratar de monografias, artigos científicos, informativos, panfletos promocionais, anúncios, ou qualquer material direcionado ao público em geral, é bom que o texto seja revisado por um profissional da área de Letras. Segundo Medeiros (2009, p. 271) “todo trabalho escrito requer variadas leituras e revisões, quer relativamente ao conteúdo, quer relativamente ao uso da língua (aspectos gramaticais)”.


Para salientar a importância da revisão, separamos três cartazes, cada um, contendo um específico equívoco linguístico. Pode ser que, dos três cartazes, poucas pessoas tenham notado o tal equívoco. Mas, por serem cartazes informativos direcionado a um público geral, não fica bem para a empresa ou para a pessoa que escreve(u), publicar uma mensagem com equívocos linguísticos, especificamente, quando se usa palavras ou significados inexistentes na língua nacional.




O primeiro cartaz (parte superior da foto) trata-se de um informativo de ofertas. Percebem-se dois tipos de equívocos. O primeiro relacionado à frase e o segundo a oração. Para efeito da análise conceituaremos frase e oração. A frase é qualquer tipo de enunciado com sentido completo. A oração é um enunciado que contém um ou mais verbos. Isso quer dizer que, a frase pode ser um tipo de oração. Por isso, a frase pode ser nominal ou verbal. A frase pode ter também um teor declarativo, afirmativo, negativo, interrogativo, exclamativo, imperativo ou optativo. O que guia o tipo de frase no contexto escrito é a pontuação aplicada adequadamente. Dentro do enunciado (parte superior da foto) “Atenção” pode ser considerada uma frase, uma vez que possui teor de entonação. Não é uma exclamação, mas cabe um ponto exclamativo. É como se o emissor enfatizasse o enunciado (chamasse a atenção), como o próprio nome diz “atenção!”.


A outra parte do enunciado trata-se de analisar a oração. Percebe-se um equívoco de concordância verbal. A oração é constituída de um sujeito longo e com um predicado contendo dois verbos, o primeiro, verbo principal, o segundo verbo auxiliar no infinitivo. Para caracterizar a certeza da concordância verbal, devemos “estudar o sujeito, pois é com este que o verbo concorda. Se o sujeito estiver no singular, o verbo também o estará; se o sujeito estiver no plural, o mesmo acontece com o verbo”. Assim, analisamos a oração “o preço de alguns produtos poderão estar abaixo do valor anunciado”. No caso de sujeito longo, como é o caso da oração, deve ser evidenciado o núcleo do sujeito, é o núcleo do sujeito que concordará com o verbo. “para saber se o verbo deve ficar no singular ou no plural, deve-se procurar o sujeito, perguntando ao verbo “que(m) é que pratica ou sofre a ação?”. A resposta indicará como o verbo deverá ficar. Sendo assim, perguntaremos ao verbo. Quem ou o que poderá estar abaixo do valor anunciado? A resposta correta é “o preço ou alguns produtos?”. No caso do enunciado do informativo, a resposta só poderia ser “o preço”.


Então, a oração deverá ter a seguinte concordância: “o preço de alguns produtos poderá estar abaixo do valor anunciado” (singular), ou “os preços de alguns produtos poderão estar abaixo do valor anunciado” (plural). A oração pode ter sentido somente com a parte essencial do sujeito, que é o núcleo, “os preços poderão estar abaixo do valor anunciado ou, simplesmente, o preço poderá estar abaixo do valor anunciado. O equívoco se deve então, a uma construção oracional em que o núcleo do sujeito “o preço” (singular) não concorda com o núcleo do predicado “poderão” (plural).


O segundo cartaz (parte central da foto) trata-se de um aviso. Dentro do enunciado usou-se a palavra “rol” com significado de (entrada). Tudo bem que o recado foi compreendido, porém a palavra “rol” na língua nacional tem como significado (inventário, lista, relação, enumeração). O uso correto da palavra “rol” só poderia ser escrito em sua língua oficial, em inglês “hall” (salão, sala, corredor, saguão, refeitório). É certo que “hall” é um neologismo muito utilizado em nossa língua, porém se usa na oralidade “[‘r ɔ ɫ]” (AFI – Alfabeto Fonético Internacional). Portanto, na escrita, deve-se escrever “hall”.


O terceiro cartaz (parte inferior da foto) anuncia um evento que terá início às 12h, isto é, a partir das 12h. O equívoco está relacionado ao emprego da crase em “à partir”. Uma das várias regras gramaticais para o uso e não uso da crase é “não se usa acento grave (crase) antes dos verbos no infinitivo". (Exemplos: a vencer, a partir, a pagar). O que dificulta muito para os usuários da língua portuguesa, em relação ao acento grave, é que na oralidade não é percebido a fusão do artigo “a” e “a” preposição. Discutir a questão do uso e não uso do acento grave levaria muitas páginas, o que não é o foco deste texto.


O texto não teve como objetivo fazer condenações aos equívocos cometidos pelos emissores do material analisado. O material, somente, serviu de suporte para melhor informar os leitores da importância da revisão textual, levando em consideração o uso da língua (aspectos gramaticais).


REFERÊNCIAS



CELSO CUNHA, Luís F. Lindley Cintra. Nova Gramática do Português Contemporâneo. 5. ed. Rio de Janeiro: Lexikon, 2008.


COSTA, José Maria da. Manual de Redação Profissional. 3. ed. Campinas: Millennium, 2007.


MEDEIROS, João Bosco. Redação Científica. 11. ed. São Paulo: Atlas, 2009.



Elisandro Félix de Lima é graduado em Letras pela UNESC - Faculdades Integradas de Cacoal, pós-graduando em Gramática Normativa da Língua Portuguesa, Prof. Tutor em cursos a distância da UNISA - Polo Cacoal-RO.

Comentários

Teoliterias disse…
Prezado Prof Elisandro
Suas materias tem enriquecido o teoliterias
e comprovado seu interesse e conhecimento no campo
Da lingua portuguesa. Fico feliz e orgulhoso de te-lo como colaborador
Oficial deste sitio. Obs coment do blackberry e nao acentua
Stéfanni Brasil disse…
Muito feliz por ter encontrado esse blog. Faço Letras e espero aproveitar muito das suas experiências postadas aqui! Parabéns!!