Resenha Obra: "INTRODUÇÃO À SEMÂNTICA DE CONTEXTOS E CENÁRIOS" (2010) – Celso Ferrarezi Jr.

UM BREVE OLHAR DA CIÊNCIA SOBRE A LINGUÍSTICA E A SEMÂNTICA: CRISE DE OBJETO E MÉTODO

by Helem Cristiane Aquino dos Anjos Fernandes*



Na obra “Introdução à Semântica de Contextos e Cenários”, o autor Celso Ferrarezi Jr. faz considerações acerca das definições, ou ao menos recortes conceituais sobre os termos “Semântica” e “Significado”, assinalando que existe maior dificuldade em conceituar o Significado do que a própria Semântica. Isso porque, para o caráter científico se estabelecer é necessário a presença de alguns fatores essenciais, a saber: o objeto, o objetivo e o método.
O objeto constitui o material de estudo, podendo ser um elemento material ou imaterial. O objetivo consiste no que se pretende alcançar com a realização do estudo, proporcionando maiores conhecimentos acerca do assunto pesquisado. E por último, o método que pode ser entendido como um conjunto de técnicas usadas para a pesquisa do objeto e consequente realização do objetivo.       
Conhecer esses fatores será útil para
o esclarecimento do que seria realmente a Semântica e o Significado, tendo em vista que a Semântica ainda não galgou o status de Ciência (FERRAREZI JR, 2010) por não apresentar um método de análise capaz de responder as questões mais básicas de seu objeto de estudo: o significado. Portanto, Ferrarezi (2010) atribui essa maior dificuldade em conceituar Significado, justamente pelo fato da Semântica não possuir métodos eficazes que possam esclarecê-lo satisfatoriamente.       
A Linguística é uma ciência, ao contrário da Semântica, que ainda rende muitas controvérsias acerca de seu valor científico. Sendo assim, é importante enfatizar Ferdinad Saussure como o primeiro pesquisador das manifestações da linguagem humana, pois suas pesquisas deram origem à Ciência da Linguagem.
A princípio, o objeto de estudo da Linguística era somente a língua escrita. É a partir das pesquisas de Saussure que as línguas naturais e suas diversas manifestações passam a compor os estudos da linguagem.
Saussure foi o responsável por fazer da Linguística uma ciência, pois ele delimitou seu objeto, os objetivos e os métodos de estudo da linguagem humana. Alguns dos objetivos delimitados por ele constituem-se de: buscar descrever e    reconstituir a origem de todas as línguas, bem como indicar as causas responsáveis pela evolução destas.
Quanto aos métodos utilizados, observa-se que muitos deles foram emprestados de ciências afins, como por exemplo: a Filologia, a Antropologia, História, Filosofia, Sociologia, entre outras. Esses métodos emprestados já gozavam de grande mérito cientifico.
Desse modo, pode-se destacar como técnicas utilizadas a reconstituição histórica por meio de comparações, uso de Gramáticas Normativas, assim como os aspectos básicos constituintes da linguagem, que foram usados para definir as diferenças entre língua falada e escritos.
Foi com base nesses métodos de analise de sistemas linguísticos que Saussure pode subdividir a Linguística, surgindo então três novas ramificações dessa ciência, a saber: Fonologia, a Semiologia e a Gramática, considerando os aspectos sintagmáticos e associativos.
Atualmente, as subdivisões dessa ciência são bem maiores, como bem afirma Cagliari (1990, p.42) “Assim podemos dividir a Linguística em Fonética, Fonologia, Morfologia, Sintaxe, Semântica, Análise do Discurso, Pragmática, Sociolinguística, Psicolinguística etc”. É válido dizer que posteriormente às subdivisões de cada uma delas, todas se tornam áreas específicas de estudo. Sendo assim, devem possuir objeto, objetivo e métodos próprios, muito embora estes devam estar em harmonia com a Ciência-mãe.   
Essas subdivisões acarretaram, de certo modo, um grande problema para a Linguística, pois ao subdividi-la, dezenas de conceitos diferentes de língua natural surgiram, fazendo com que a metodologia responsável pelo surgimento dessa nova visão fosse insuficiente para descrevê-la. Isso quer dizer que a língua natural, objeto de estudo da Linguística e, de certa forma, de suas demais ramificações, passaram a ser analisadas numa partimentação muito limitada, que não dava conta de toda a sua complexidade, como por exemplo explicar a língua natural apenas pelo foco da Semântica, ou da Análise do discurso, ou ainda apenas pela Sociolinguística.
No entanto, as delimitações foram importantes no sentido de organizar a ciência, separando as diferentes perspectivas de abordagem feitas em relação à língua natural. Mas, infelizmente, em certos momentos, mais atrapalhou do que ajudou na compreensão geral do que seja língua natural, pois análises demasiadamente fragmentadas não são convincentes, como afirma Ferrarezi (2010, p.15):


[...] não pode existir uma Fonologia convincente sem uma Fonética (...). Não existe uma Sintaxe convincente sem uma Semântica (...); enfim... uma língua natural não pode ser compreendida e explicada aos pedaços de forma convincente [...]

A partir dessa premissa, Ferrarezi (2010) dá início a uma longa discussão sobre o problema da Semântica, ou seja, sobre os verdadeiros motivos que a impede de se consolidar como Ciência.
Sabemos que o objeto de estudo da Semântica é o significado, e que o seu objetivo é compreender o significado. Portanto, surge daí seu principal empecilho na definição de seu método.
A semântica poderia, de acordo com as idéias de Saussure, definir-se a si mesma e delimitar-se. Porém, esse instrumental não seria conveniente por ser limitado a uma mera subdivisão Semântica.
Inicialmente ela investiu nessa possibilidade e tomou emprestado o método da lógica Formal, bem como alguns procedimentos da Filosofia; mais adiante passou a analisar estruturalmente os sentidos, depois a análise funcional - que quase baniu os sentidos, e enfim, a uma análise gerativa. Método atrás de método, todos muito controvertidos, e que de nada solucionaram o seu e os outros problemas da compreensão de seu objeto de estudo.
Portanto, fica evidente que a semântica não pode ser considerada uma ciência por não possuir exatamente a noção de significado; é por isso que a maioria das teorias propostas acerca do significado, em grande parte são insatisfatórias, mesmo sendo desenvolvidas por renomados pesquisadores, e sob critérios rigorosos de cientificidade.
Sendo assim, Ferrarezi (2010) propõe que os estudos semânticos reavaliem os conceitos de significado, para observarem até que ponto ele é essencialmente importante para a semântica, pois como se sabe, após tantos séculos de estudos, ainda não temos uma resposta satisfatória para o significado. Desse modo, o autor propõe a reestruturação da Semântica.

REFERÊNCIAS


FERRAREZI JR, Celso. Introdução à Semântica de Cenários e Contextos. São Paulo: Ed. Mercado de Letras, 2010.



*A Autora é professora da Rede Estadual de Rondônia, Graduada em Letras e Especialista em Metodologia e Didática do Ensino Superior.

               

Comentários

Sandra Maristela disse…
Profª Helem quero parabenizá-la por esta postagem, por ser um tema complexo você conseguiu (re)passar de maneira objetiva, concisa e esclarecedora. Obrigada pelo compartilhar. Abraços.