UM PAÍS SE FAZ DE HOMENS E LIVROS
UM PAÍS SE FAZ DE HOMENS E LIVROS
by Rômulo Giacome
Este pensamento foi proferido
por Monteiro Lobato, um tradicional literata que não participou da Semana de Arte
Moderna, nacionalista xenofóbico, mas que entendia, em certa medida, que sem
educação não se constrói um país. O que tem implícito nessa afirmação inicial?
Que hoje, mais do que nos tempos de Monteiro Lobato, um país forte econômico,
social e politicamente só se faz pela educação.
Bem, este clichê é apenas um portal para a chegada do
grande problema. Faltam políticas públicas mais acentuadas sobre educação?
Falta profissionalização na educação? Sim. Mas o grande problema da educação
brasileira é simples e de natureza cultural. O Brasil não é um país de
“estudantes”. O povo brasileiro não tem a cultura da leitura e do estudo. Em
suma, mesmo que sangre e corte na carne, o povo brasileiro não gosta de
estudar. Nós não gostamos de estudar. E vemos isso como sacrifício.
Desde governantes da esfera estadual, federal e
municipal, dos representantes do legislativo, até mesmo artistas globais ou
não, celebridades, soam aos quatro cantos que não precisaram estudar para
chegar aonde chegaram. Cantores de vários gêneros, empresários e comerciantes,
agricultores e agiotas, acabam deixando escapar, em momentos de soberba e
presunção, que aprenderam com a “vida” e enriqueceram ou não por ela,
simplesmente.
Como um rastro de pólvora, se incendiou no Brasil a ideia
de que “intelectual” é abstrato e não entende nada da “prática”, que
intelectual é antipopular e odeia povo; se proliferou a ideia que quem lê perde
tempo, pois o livro é diferente da prática, e quem lê muito é maluco. Que a
leitura e os livros fazem parte de uma espécie de “imperialismo” opressor das
elites. Não entendem que as elites, se existirem, nos dominam por aquilo que
gostamos. Ou que achamos que gostamos, mas que, na verdade, não temos liberdade
de escolha, tem que ser e pronto.
Todo país emergente que se preza tem investido
incessantemente na educação. Os países com amplo índice de crescimento
econômico tem adotado a educação como mola mestra. Basta compararmos nossos
resultados pífios no Pisa, (Programa Internacional de Avaliação de Alunos),
principalmente no campo da leitura; Cingapura, Coreia do Sul e China, são
países emergentes que se apresentam nos melhores lugares no PISA. Por outro
lado, os EUA, ao sentirem que desceram aos vigésimos lugares no teste, têm
voltado suas atenções e investimentos para tomarem novamente os primeiros postos.
Coincidentemente, seu crescimento econômico diminuiu à medida que seus índices
educacionais também diminuíram.
“Não me
digam que está tudo bem...”, seria o que uma banda de Rap dos anos 90 falaria
agora. Infelizmente, o Brasil não melhorou nada de 2009 a 2012 (último teste
divulgado). O Brasil piorou. Caiu para 55ª posição, perdendo para Chile,
Uruguai e Tailândia. Além disso, 49,2% dos alunos brasileiros são os piores
leitores do mundo (não atingiram nível 02, de uma escala de 01 a 06). Reforço:
os piores leitores do mundo. (PISA, 2013).
Eu sei
que o mundo está errado e o Brasil certo, visto que temos um legítimo governo
de esquerda. Mas ninguém percebeu que conhecimento é dinheiro? Ganha dinheiro
que tem mais conhecimento e informação. Os países mais evoluídos em Ciências
têm as melhores empresas e melhores empregos. O Brasil é um dos piores países
do mundo em Ciências (59ª posição de 65 países). Enquanto encaramos a formação
educacional como coisa abstrata, um “problema” fatigante e sem nexo, os países
a encaram como oportunidade de crescimento.
Grosso modo, cultura implica valoração e costumes. Coisas
e ações que valorizamos mais e outras menos. Infelizmente, a educação ainda é
vista como improdutiva no Brasil e a leitura como luxo desnecessário, além da
cultura artística ser encarada como coisa blasé (metida). Nesse pacote de
valores, é óbvio que professores não serão valorizados. São profissionais que
não fazem parte da efetividade cultural, da realidade da vida das pessoas.
Tentamos impor e conscientizar o povo de que estudar é importante. Bem, um país
em que temos de obrigar a população a estudar, alguma coisa vai muito mal.
O problema é que muitas vezes a cultura promove a
depreciação do ato de ler, como uma espécie de tergiversação maligna, impondo
valores deturpados de riqueza, poder, valorização, celebrismo e
superficialidade do conhecimento.
É muito doloroso discutir educação em um país onde a
maioria acha que o livro é inútil, a aula uma dolorosa tortura, o professor um
inimigo e a escola um campo de concentração. Segue errada nossa cultura, do oportunismo
e não da oportunidade.
Celebro, com esse texto, a semana do Livro. Aquele que
outrora era objeto de poder, meio para a evolução do homem; objeto que correu o
sangue das revoluções e a altivez dos grandes discursos de liberdade; das
grandes descobertas e lindíssimas emoções, e que agora, decrépito, se esconde
na estante, sem uso.
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