APRESENTAÇÃO DO LIVRO (RETALHOS DE ÁGUA) EDUARDO MARTINS





por Rômulo Giacome
Eduardo Martins de Barros Melo vem veloz. Vem tecendo, em finas camadas líquidas, lâminas de água que dissecam. Em cada lâmina um enigma insondável na profundeza dos leitos aquosos onde se escondem as palavras, ditas e não ditas. Mergulhar em cada poema é vislumbrar um enigma. E tão feliz ficamos quando lemos poemas enigma.
Dotado de um poder de síntese metafórica impressionante, o livro desenha-se sobre a velocidade do verso curto, duas ou três palavras, lépido e objetivo. Talvez sua veia Cabralina? Mas na segunda parte, passado o momento fortuito das superfícies, o tom é desenhado em contemplação demorada: é preciso mais fôlego para mergulhar no museu, a água densa necessita de mais reflexão. O verso se volta no próprio eixo.
Em “Nascendo Amanhã” e a série de poemas que se desenha a partir de então, o ato de sair é homológico ao batismo, como a catarse da poesia sobre o leitor. Esse renascer, batismo poético necessário, é uma espécie de pacto da poesia, que coloca a leitura como ritual.
“Retalhos de Água” é afluente do oceano criativo, e dele se alimenta. Alimenta todos que vem em sua margem. De poesia criativa, densa e bem escrita. E chega em excelente hora, em um momento que a poesia brasileira vive seus diálogos com a tradição e toda as possibilidades editoriais e discussão das redes sociais.
Eduardo já inova fazendo uso das redes sociais, publicando seus poemas minuto e seus pensamentos poéticos. Mas toda a densidade poética só consegue ser vislumbrada na altura de uma obra como esta. Gerida e suscitada dentro do edifício teórico da Escritura.
No terceiro e último retalho, o elemento espiritual faz coro com as vozes e polifonias harmônicas das sibilantes, voltando para a pressa dos versos curtos, petardos explicativos. Petardos como: queria a deusa do escuro / para apagar-lhe a dor / de ter a luz à frente. Ou em driblo os automóveis / e atravesso a rua / para a solidão.
E nessa ânsia de explicar, ânsia por ensinar, a faceta professor sempre está presente, sondando e ponderando,  / apago o quadro / como quem limpa a alma / e aprendo a lição / sem abrir o livro. Em alguns momentos, os versos têm explicado aquilo que sempre se tentou explicar: mas em outros momentos, os versos remontam as ânsias antigas, os antigos paradoxos insondáveis, entre os Deuses e Deus, a santidade e os Santos.
Apresento esta obra com um sem limite de ansiedade e felicidade; a ansiedade da descoberta, de ler cada verso e além da plasticidade, sentir o pulsar criativo de uma ideia surgindo, invadindo e explodindo. Que bom ler sopros de atividade poética de qualidade.  
Felicidade por saber que Eduardo Martins e sua obra “Retalhos de Água”, representam muito da ótima qualidade poética e da veia criativa produzida em Rondônia. Saber que antes de tudo e sempre, Eduardo é poeta professor e professor poeta, nesse interstício mágico da profissão com a Língua.
Leiam esta obra com olhar arguto; leiam esta obra com o olhar crítico; mas sempre, e antes de tudo, leiam esta obra com o viço da criança e a expectativa do jovem; por fim, leiam.





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