O BARROCO EM SANTO ANTÔNIO DE LISBOA (FLORIANÓPOLIS)



Na belíssima Santo Antônio de Lisboa, com seu mar calmo e pôr do sol único, está a Igreja de Nossa Senhora das Necessidades, uma joia com marcas Barrocas contemporâneas às de Minas Gerais.


Viajar é ampliação cultural e cognitiva. Sem dúvida potencializamos nossa percepção e sensibilidade ante as diferenças culinárias, visuais e culturais. O novo e o diferente encontrado nos locais que visitamos alarga nossos parâmetros e referências, permitindo nosso crescimento. Mas para tanto é preciso um julgamento menos indiferente e mais inclusivo, bem como a curiosidade e um comportamento investigativo. Sim, investigativo diante das informações dadas e, principalmente, nas não obtidas facilmente. Portanto, quando viajamos devemos estar treinados a pesquisar e buscar informações sobre as nossas áreas de interesse, inclusive para ampliar nosso foco. 
As marcas coloniais e de formação do povo brasileiro, manifesto na culinária, arquitetura e iconografia, dentre outras referências, podem ser vistas em muitas rotas turísticas deste imenso Brasil. Seja a colonização internacional e inicial do nosso território; seja pela intervenção e constituição cultural de regiões por outras regiões internas brasileiras, como é o caso da constituição cultural do povo rondoniense, que demandou de movimentos culturais e sincréticos entre indígenas e nordestinos, predominantemente.
Em Florianópolis, pertinho do Centro e no caminho das praias do Norte, temos a belíssima região de Santo Antônio de Lisboa, rota turística sofisticada de restaurantes e um belíssimo por do sol. O mar calmo ainda mantém o espírito simples da pesca de ostras. 

Aqui existem as pegadas da colonização internacional açoriana, oriunda das três ilhas do arquipélago dos Açores.
As levas de imigrantes vieram, principalmente, na década de 50 no século XVIII (1750). Esta data é importantíssima, pois mais ao centro do País estávamos vivendo um dos maiores movimentos artísticos culturais, o Barroco mineiro, predominantemente nas igrejas. A Igreja Nossa Senhora das Necessidades possui marcas desta contemporaneidade histórica e estilística de Minas, apresentando laivos e pequenas nuances destas intervenções Barrocas em sua estrutura e embelezamento.

Talvez seja a joia da coroa, juntamente com o belíssimo mar e a pequena rua de pedra que demarca a primeira pavimentação da ilha, ainda sobre a égide da coroa portuguesa. O medalhão e a insígnia que adornam a Igreja, assim como o coral e altar embelezado de modo fleumático em cor azul água e branco e com imagens tocando em cores mais fortes, como o marrom e o vermelho. Importante salientar este contraponto entre o minimizado altar, berço das imagens, que surgem retumbantes em cores fortes.





O bem trabalhado púlpito, esculpido em madeira e gesso, com talhe rococó. Além da pintura no teto, teto este de madeira, promovendo um diálogo com o Barroco elaborado em Minas. As cores e os tons formam uma identidade própria, mas estão alinhadas com alguns paroxismos barrocos, como as cores fortes em contraste com a sobriedade.

Importantíssimo são os eternos anjos Barrocos com feição específica da ambiguidade. Irrompendo dos talhes e fulminando o ambiente com seu olhar questionador e dúbio.  


A iconografia do anjo Barroco é a própria sugestão dos paroxismos entre o infantil e o adulto, bem como o bem e o mal. Equilibrada nesta inquietação, o olhar envolto de questionamento sem a certeza celibatal, está bem emoldurada nas colunas e traços decorativos. 
Também um detalhe não nos escapa na estrutura arquitetônica desta igreja. O portal e a janela de vidro circular na entrada, em altura suficiente para projetar a luz do sol no altar. Esta técnica é utilizada na Basílica do Pilar, em Ouro Preto. Seu funcionamento atua como um holofote, que projeta a luz nos crepúsculo, criando uma ambientação dúbia de luz e sombra.

É muito interessante pensarmos na disseminação do Barroco a partir de Minas, surgindo em várias partes do Brasil, como é o caso desta Igreja em Santo Antônio de Lisboa, bem como outras espalhadas pelo nordeste e centro oeste.
Pela fundação da Igreja de Nossa Senhora das Necessidades (1756) e sua riqueza estética e cultural em seu interior, além da forte presença de arquitetura Açoriana nos traços e cores, claro, com a emulação turística necessária para manutenção das visitações.

Muitos podem criticar algum certo artificialismo na constituição do clima culinário, mas em certa medida muitos traços da culinária portuguesa legítima está encravada nesse pequeno paraíso em Floripa, como os doces e cafés.
Por fim, o olhar colonial e suas marcas são deixadas na Rua de pedra, que remonta a primeira pavimentação em Florianópolis e a visita de Dom Pedro II.

É essencial visitar estas preciosidades, que exalam a complexidade cultura e cativam nosso interesse em melhor entender nosso passado, e nossa constituição enquanto povo e sociedade brasileira. Existe um grande quebra-cabeça de referências barrocas distribuídos pelo Brasil. Devemos estabelecer estas conexões enquanto apreciadores deste rico trabalho e estética. 

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