SEMIÓTICA E CRÍTICA LITERÁRIA: PREÂMBULOS

Este texto tem a função de traçar um preâmbulo da Semiótica e sua atuação na Linguagem e para ela, principalmente a Linguagem Literária e Artística. 


A semiótica tem por objeto sistemas representativos de linguagem.
Um sistema linguístico tem uma estrutura bem definida de funcionamento,mas não podemos afirmar o mesmo quanto às suas dimensões, poissempre estamos acrescentando algum novo signo ao conjunto.
Os signos que compõem um sistema não necessitam necessariamenteserem linguísticos. Podem ser objetos, assim como as roupas são signos
para o sistema moda, e estão presentes sem a necessidade de inscrição,ou seja, não necessitam serem postas como signos para que atuem comotal.

A própria semiótica é o olhar por sobre as coisas que significam. Um olhar que procura re-organizar os sistemas simbólicos em busca de uma coerência e unidade que lhes dê sentido: assim como a culinária se apresenta como um sistema semiótico complexo, pois comunica e apresenta signos de diversas leituras, coerentemente amarrados pelo ato de comer, alimentar, preparar, etc...

Efetuar leituras do mundo simbólico é a forma mais nítida de compreender a semiótica, uma vez que precisamos decodificá-lo.

Note que para descrever o mundo, utilizamos um sistema modalizante, que pode ser considerado primário, que é a própria linguagem. A linguagem é o primeiro sistema que atua re-organizando o mundo, e descrevendo-o de forma a presentificar ao interpretante.
Quando descrevemos uma cena, narramos um fato, falamos sobre alguém utilizamos a linguagem modalizante primária.
A linguagem é a primeira organizadora do mundo, que pode não ser tal qual o vemos. Por isto ela é um sistema simbólico que atua sobre a realidade. Já a literatura atua sobre a linguagem, e pode ser considerada um sistema modalizante secundário.

Língua Objeto ------ Metalinguagem (literatura)

A literatura e outras linguagens artísticas ou simbólicas atuam por sobre um sistema llingüístico primário, que lhes dá origem.
O processo literário de criação e crítica, pode ser representado pela semiótica da seguinte maneira:

Real e a Linguagem (código padrão que reorganiza e representa o real) S1 ----S2

Sistema Literário (reorganiza esteticamente o S1) S2 ---S3; Sistema Crítico (reorganiza e representa o S2) S3

O processo de evolução semântica, perpetuação do sentido, gradação nos níveis de modalização (primária, secundária, etc) chama-se Semiose.

Em linhas simples, a semiótica tenta explicar o processo de evolução da linguagem em seus níveis modalizantes primário, secundário e terciário, evoluindo rumo à polissemia. 

Exemplo de Modulação:

Nível 01 - "prego" - "Comprei um pacote de pregos" Nível denotativo primário.

Nível 02 - "prego" - "Fulano é muito prego." Nível conotativo secundário, pois surge ambiguidade (duplo sentido). Uso especial da linguagem. 

Nível 03 - "prego" - "É muito prego para pouco martelo". Nível conotativo terciário, ambiguidade com estilização. 

Nível 04 - "prego" - "Ser, líquido, leve, ou acima, prego, na madeira". Nível conotativo polissêmico. (múltiplos sentidos). Significado não existente na palavra. Necessidade de investigar o sentido da palavra no contexto. Possibilidade de interpretação. 

A literatura proporciona evolução do signo para se despreender de seu sentido comum. 

Nível 05 - "prego" - Linguagem não-verbal. 


Nível semiótico avançado, pois utiliza múltiplos elementos representativos. 


Para a semiótica contemporânea, tudo que significa dentro de um sistema passa a ter caráter de signo. Por isso que a semiótica lida bem com o verbal e o não-verbal ao mesmo tempo.




Qual o segredo? O segredo é o modo de estudar e olhar o elemento significativo. A possibilidade de significação de dado signo está em seu contexto sistemático e no caráter semântico do interpretante (como exemplo, o leitor)

Um signo alocado em um sistema modalizante secundário (literatura, por exemplo) já é destituído de seu sentido original, podendo receber evoluções semânticas dadas pelo interpretante. logo, o potencial do signo é dado por aquele que o lê.
Olhamos o signo por aquilo que ele pode ser e não pelo que ele é, logo podemos encarar uma pintura da mesma forma que um vocábulo, desde que descortinado o seguinte princípio:

Todo signo é portador de informação.

A partir da premissa acima, temos que entender que o serviço prático de um semioticista é entender os mecanismos que levam aos sentidos nas linguagens não naturais, ou seja, aquelas modificadas pelo trabalho humano (cultura). Assim, perceber e analisar o funcionamento dos recursos, métodos e procedimentos que fazem a linguagem funcionar, e inclusive descrever este funcionamento.

O Aprofundamento destas temáticas podem ser efetuados nas seguinte obras:


SANTAELLA, Lúcia. O que é Semiótica. São Paulo, Brasiliense, 1983
NÖTH, Winfried. Panorama da Semiótica: de Platão a Peirce. Ed. Annablume. São Paulo: 1995.

ALMEIDA, Milton José de. Imagens e Sons, A Nova Cultura Oral. 3ªed. Cortez. São Paulo, 2004.

WALTHER-BENSE, Elizabeth. A teoria geral dos Signos: Introdução aos fundamentos da semiótica. Perspectiva. São Paulo, 2000.

SANTAELLA, Lucia. A teoria geral dos signos. Pioneira, São Paulo, 2000.

FIDALGO, Antônio. Da Semiótica e seu objeto. Universidade da Beira Interior <www.bocc.ubi.pt> acesso em Dez 2004.

Comentários

Anônimo disse…
A semiótica pode apresentar estudos bíblicos?