TRILOGIAS: FILMES SOBRE EDUCAÇÃO E UM DEBATE INESGOTÁVEL







TRILOGIAS: FILMES SOBRE EDUCAÇÃO E UM DEBATE INESGOTÁVELPor Rômulo Giacome O Fernandes


Sociedade dos poetas mortos instaura uma trilogia[1] de filmes sobre educação, mestres, grupos e, principalmente, elementos culturais cristalizados em nosso cotidiano que impedem a evolução humana de nossa sociedade. Dilemas como humanização dos valores sociais, relação mestre/aluno, dilemas burocráticos em relação aos aspectos pedagógicos são problemáticas e dicotopias que se apresentam nitidamente em obras de ficção, principalmente no cinema.
Trilogias sempre me afetaram como fruidor da obra literária e sempre foram palco do meu interesse. Um dos elementos que me chama a atenção é a questão do conceito que amarra cada uma das obras, compondo uma unidade a partir da diferença. Este elemento conceitual determina relações e ligações subjetivas e interculturais entre as obras componentes da tríade, que consolidam fortes laços temáticos e problemáticos, trazendo reflexões variadas sobre o mesmo foco. Além, é claro, da perfeição do número três, que indica: prenúncio, instauração e conclusão, ou seja: o primeiro filme que abre a discussão, que provoca e indica um caminho original; o segundo filme que instaura a discussão, o problema e, por que não, o gênero; e por fim, a conclusão; o sinal de fechar sem tocar no finito das discussões; eis a química numerológica que abre as trilogias.
Por ser uma discussão atual e balizada por grandes obras e pensadores, iniciaremos com o primeiro filme da trilogia: Sociedade dos Poetas Mortos. Segue sinopse:

Um carismático professor de literatura chega à um conservador colégio, onde revoluciona os métodos de ensino ao propor que seus alunos aprendam a pensar por si mesmos. Dirigido por Peter Weir (O Show de Truman) e com Robin Williams e Ethan Hawke no elenco. Vencedor do Oscar de Melhor Roteiro Original.
ANÁLISE DO PRIMEIRO FILME: “A SOCIEDADE DOS POETAS MORTOS” E A ÉGIDE DO PÓS-MODERNISMO
1º. O filme não está instaurado por sobre o discurso da arte literária, ou seja, discutir a composição poética ou suas definições; a literatura é apenas o mote para discutir um modo de vida; O processo de instauração de uma subjetividade na realidade da vida; (aspecto perene do Pós-Modernismo) A literatura perde seu contato entre o abismo da Vida e da representação; é preciso a representação real, o real requerido e em ausência desde a virada do experimentalismo. Traduzindo esta ansiedade poderíamos dizer que o filme anseia por um pouco de realidade.

2º. Evita a teorização canônica, por dar vazão às rupturas dos estilos; portanto, a análise literária é feita na situação da ação, pela práxis do modo de vida; Ou seja, é preciso fazer e não parecer. A reflexão acontece no âmbito do Imperativo Categórico de Immanuel Kant. Evita também por não acreditar nas instituições, e sim na prórpia vida que urge debaixo dos livros e conceitos, instaurando um primitivismo interessante. Queda das instituições (Escola, Intelectualidade Pragmática, saber como prêmio).

3º. Existe um apregoamento de um Niilismo Romântico: negação da arte pela arte; negação da escrita pela escrita; negação da própria vida;

4º. O mutatis mutandis do processo: a catarse pela arte, por meio da peça teatral, o personagem protagonista busca sua identidade no espaço que não lhe é destinada pela vida. Encontra-a na premissa alternativa, constituindo o enunciado: o que é possível no alternado e deduzir alguns elementos: dramatização; uma sociedade secreta; a embriagues; a loucura; o instinto; a primazia do ser, em suma: “O império dos sentidos”;

5º. Ponto Pós-moderno: A experiência e o conceito sedem terreno para a Imagem; a sedução pela imagem; (iconografismos); E a imagem tem contato com o ser pelo Fetichismo, pelo laço sexual e pornográfico.

Educacionalmente, a polarização mestre / aluno é povoada por um binômio que segue à risca a relação conflito / catarse. Esta fórmula básica dos filmes do gênero deve ser analisada respondendo a sinalização do filme quanto a qual forma de desfecho utilizada para o embate.
A noção de cumplicidade e afetividade ganha contornos nesta película, que tem como ponto central uma relação extra-educacional, uma vez que implica a figura humana da relação dentro de um processo ensino/aprendizagem tradicional. Esta idéia de ultrapassar as barreiras culturais e hierárquicas da relação de poder professor / aluno, povoada de idealismo, teve seu grau máximo de representação no filme "Os escritores da Liberdade", que incita a aproximação entre professor e aluno por meio dos problemas pessoais de cada um. Ultrapassada as noções de uma didática magna pautada na obediência e subserviência resignada da educação tradicional das décadas 60 e 70, o que resta ao professor contemporâneo é a habilidade de se relacionar, fortalecendo laços de conquista e proximidade, hoje chamados de carisma.



[1] Sociedade dos Poetas Mortos (1989), O Clube do Imperador (2002) e o Sorriso de Monalisa (2003).

Comentários

Anônimo disse…
muito bom seu texto crítico, adorei seu pnto de vista, muito bom.