EXISTE MESMO GOSTO PELA LEITURA?

LEITURA É UM TRABALHO QUE DÁ PRAZER
by Rômulo Giacome

O professor Antônio Carlos da Silva, meu amigo, em uma ocasião de qualificação de trabalhos de conclusão de curso, suscitou o tema do gosto pela leitura. Na ocasião, o professor Thonny, como gosta de ser chamado o referido professor subscrito, afirmou que não existe gosto pela leitura. Existe uma curiosidade e uma necessidade de saber para crescimento profissional e pessoal. Concordo com ele, e sobre isto que venho a lume discutir.
Em primeiro lugar a noção de gosto pela leitura, como é entendida a noção geral, é de prazer, júbilo e, muitas vezes versada (erroneamente) como êxtase. Dessa forma, gosto pela leitura seria um tipo de prazer intenso, extremamente poderoso, uma catarse envolta em uma epifania de sentidos rumo à quimera perfeita de fronte ao livro. Em suma, algo impossível de acontecer, justamente porque este prazer não é sensível aos olhos da epiderme ou visão, mas sim nos recôndidos da nossa capacidade abstrata.
Prazer pela leitura é algo refinado e depende de iniciação. Uma definição mais consciente de gosto pela leitura deve passar ao largo do sentido prospectado pelos inquietos e simbolistas leitores que querem sentir orgasmos intelectuais.
Assim, sob o signo da sobriedade e da razão, o gosto pela leitura está mais para um trabalho silencioso de decodificação, internalização e construção dos saberes envoltos, seja em forma de ficção, seja na face técnica, seja na face filosófica, e assim por diante, do que para um prazer hedônico. (sensível)
O gosto pela leitura que devemos entender, ou ao menos me parece o mais construtivo e real, é aquele onde a razão nos permite ser transformados, conscientes de nosso percurso mutacional rumo ao desenvolvimento cognitivo e humano. Crescer intelectualmente prescinde da boa leitura, daquela que reúne os requisitos tais quais: qualidade da informação, nível de discussão e valor da apreensão do texto lido.
Assim, prazer inigualável e grandioso está em perceber o crescimento oriundo da nossa leitura, ou seja, do nosso trabalho transformador sobre a realidade da informação que advém dos livros, proveniente desta empreitada silenciosa que é caminhar pelo conhecimento.
Pensar em gosto pela leitura nos moldes que temos é algo que prescinde de uma definição mais pertinente e imediata de gosto. A sensibilidade da criança frente ao livro é diferente daquela empreendida pelo adulto. O nível de exigência de ambos deriva também do grau de expectativas que cada um projeta para com sua obra. A frustração imediata do leitor em não construir o grau de sensibilidade que almejava em contato com o livro, deve ser solucionada a partir de uma visão realista e madura do que é leitura, do trabalho que ela empreende, da seriedade com que ela deve ser entendida e conduzida, com a mágica do imaginário, das referências, do vocabulário, dos requisitos mínimos que o leitor vai adquirindo caminhando pelos livros.
É importante também salientar que existem níveis de leitor, e destes é possível abstrair tipos de textos mais adequados, assuntos e temas mais relevantes, assim como linguagens mais acessíveis.
É possível sentir prazer pela leitura? É possível construir um “gosto” pela leitura? Gosto é algo extremamente subjetivo, mas de qualquer modo não é algo localizado. Gosto pela leitura tem quem também é preparado culturalmente para entender o livro como objeto de transformação intelectual. Quem não tem esta noção confunde prazer sensível com prazer intelectual, mistura revelações e evocações emanentes das palavras com sensações.
A discussão é longa e demanda tempo e mais leitura. Assim, da minha experiência demarquei em minha jornada de leitor, vevando em conta uma máxima que criei para mim: LEITURA É UM TRABALHO QUE DÁ PRAZER.

Comentários

Kely Pritsky disse…
Nesse caso, também concordo com o professor Tonny, não vou saber nem pretendo, por enquanto, defender uma tese sobre gosto pela leitura, porque até então, ainda ESTAVA naquela margem da pesquisa de 1,2 % livros por ano do texto anterior. Pode me enforcar! Culpada! Confessa! Em uma outra ocasião, tive a oportunidade de ouvir, se eu não me engano, do próprio professor Tonny, que dizia mais ou menos assim: que é difícil alguém amar, sentir uma adrenalina, acelerando o ritmo cardíaco, aumentando a pressão arterial tendo ataques eufóricos de puro êxtase, lendo! Mais sim, o prestigio, o retorno, a posição que fico ao comentar sobre determinada obra literária do momento com propriedade de quem entende e sabe do que esta falando, e não assim dizer: “ficar de fora!”. Suponho que seja um “mix” de vontade, necessidade e porque não, um pouquinho de egocentrismo?(risos)
Nicy Oliveira disse…
Verdade. Posso dizer que foi muito graficante as leituras para construir minha monografia. Realmente foi prazeroso, o que até então, antes de iniciar as pesquisas,imaginei que seria "chato pra caramba", diante de alguns comentários que me fizeram a respeito de ler "Memorial do Convento". Mas eu mesma me surpreendi e quando dei por mim, estava totalmente envolvida com o discurso e com o enredo, como se eu mesma estivesse no lugar no complicado narrador e também, como se aquela linguagem rica fizesse parte do meu lexico.(viajei nessa rsrs...) Isso foi realmente diferente porque, por um certo momento, relembrei minha infãncia e dos vários gibis amarrotados que eu li inúmeras vezes, por falta de outros, sem contar ainda, os "causos" antigos que meu pai contava. Incrível!Mas, voltando ao presente,excelente texto!
Teoliterias disse…
Nicy e Kely
Acgo que vocês conseguiram sintetizar muito bem a expressão do texto e sua relação com o gosto pela leitura; acredito que o livro admite uma barreira inicial, que quando rompida, promove um fluxo de prazer da leitura, mas também da sensação de estar crescendo, de estar construindo um saber e um conhecimento; um grande abraço a vocês duas e obrigado pela audiência;
ÁLVARO CHAVES disse…
Acredito que o prazer de ler pode ser desenvolvido. Entretanto, como desenvolver algo que é tão sufocado por uma cultura que privilegia televisão e internet? A reflexão, que foi feita a respeito da leitura, é pertinente, mas afirmo, com propriedade, que isso pouco é feito nas escolas, principalmente as públicas, de nosso país. O que se observa,tanto no ensino fundamental, quanto no médio, é o ensino contínuo de análise morfológica e sintática. Pessoas de má formação acadêmica fazem os falantes de língua portuguesa pensarem que aprender o idioma é decorar terminologias e regras gramaticais. Trata-se de um opróbrio praticado na educação brasileira. A prática da leitura fica em segundo lugar, tornando-se cada vez mais,uma espécie de abstração bem distante ao falante da língua, que na maioria das vezes, termina o ensino médio sem a mínima habilidade de leitura, sem competência para decodificação, compreensão e interpretação. Realmente, o gosto pela leitura torna-se uma quimera para muitos brasileiros analfabetos funcionais do nosso idioma. A reflexão, o incentivo e a prática da leitura ainda não é consenso efetivo no Brasil. Peço permissão ao produtor do texto para utilizar essas reflexões como instrumento do "despertar para leitura" em sala de aula com meus educandos. Obrigado atenção.
Teoliterias disse…
Álvaro, fico extremamente feliz com sua presença aqui; tenho certeza da qualidade dos seus apontamentos e concordo contigo; a situação exposta no texto ocorre em um contexto especial, controlado, pradronizado e quase "ideal" de leitura; no entanto, a realidade é bem diferente; o que me conforma é saber que ainda existem pessoas que lutam, assim como você, tentando implementar um discurso de leitor e de valorização da leitura. Um grande abraço e sinta-se a vontade para usar o texto. Abraços e Volte sempre.
Anônimo disse…
Olá professor, saudades da facu!
Aquelas aulas de teorias literarias. O quao bom estar na "lucura" pela busca do saber.
Nossos braços, as vezes, sao tao pequenos em relaçao ao quanto desejamos abraçar.

Abraços
Att: Admilton (letras)
Anônimo disse…
bom, alem de ainda ter q usar um dicionario pra entender tudo(brincadeira, somente algumas palavras kkk)estou eu tomando gosto pela leitura tambem e ate apreciando,ainda nao cheguei ao maximo mais ainda chego la. com sua ajuda logico profe.ainda vou falar dificil igual a voce, e nao vai demorar muito nao viu.

Adriana(drika) 1 letras
Gabriel Tristão 3°A Direito disse…
Caro professor, saudades das suas aulas...
Hem! Uma cobrança, não me deu Dez néh...
Mas tudo bem entendo, nós precisamos a cada momento lutar para galgar o ápice!!!
Olha tendo apenas uma visão de uma das facetas da leitura, vejo que a mesma é prazerosa, mas ao mesmo tempo ela nos contraria aquilo que temos como ícones a nos apegar, o gosto de ler se aplica a curiosidade e a satisfação por algo que necessite alimentar o ego e formar a sua ilustre concepção e centralizar no seu intelecto ao momento mais pertinente que é a realidade tão sombria, ora irreverente a nos propiciar...
Não sou “expet” como você,... Creio que precisaria ter feito ''LETRAS'' para ter um entendimento tão expressivo e propicio ao exposto!!!
Grande abraço...

Gabriel Tristão
Thonny Hawany disse…
Prezado professor Rômulo Giácome, inicialmente, quero registrar a minha gratidão pela deferência feita a mim e, em especial, a minha forma de pensar o gosto pela leitura no texto “Existe mesmo gosto pela leitura?” de sua lavra intelectual.
Concordo que “prazer pela leitura é algo refinado e depende de iniciação”. Neste período, o senhor sintetizou a ideia de gosto pela leitura e foi além ao caracterizar uma realidade latente maquiada pelos utópicos defensores da “leitura gostosa” ou do “gosto pela leitura”. Como gostar de algo que nos é imposto? Se há prazer ou gosto pela leitura, este deve ser construído e não imposto. Não me parece que o ensino de leitura no Brasil seja uma atividade de prazer para o aluno e para o professor. Quero ressalvar aqueles excepcionais leitores (alunos e professores) que (in)voluntariamente conseguiram atingir o nirvana da leitura na sua mais ampla acepção.
Ter gosto ou hábito pela leitura num país de não-leitores é a mesma coisa, ou seja, não há gosto, não hábito, não há nada. Há uma espécie de exercício de leitura imposto pelo sistema sob o qual marcha o homem como a metáfora criada no clipe da música “Another Brick in the Wall” by Pink Floyd.
A meu ver, é preciso mudar essa concepção de gosto pela leitura, porque ela não se explica e muito menos explica a necessidade que o indivíduo tem de ler para se situar como homem social que depende de compreensão literal e integral de si, do outro e do mundo em que vive. O leitor não precisa amar ou odiar, gostar ou desgostar da leitura, deve, pois, conviver com ela como instrumento aliado de suas escolhas de tudo o quanto ela, a leitura, pode lhe proporcionar.
Em suma, é preciso que o leitor tenha consciência da importância cognitiva que o hábito de ler tem para qualquer indivíduo. Quando ele entender que “leitura é trabalho que dá prazer”, terá prazer em ler e a este prazer, poderá chamá-lo do que bem entender, inclusive de “gosto pela leitura”, se tal gosto, lógico, representar um trabalho intelectual que o leve ao sucesso como homem capaz de compreender e apreender a si, ao outro e ao mundo em que está inserido.

Parabéns pelo texto. É óbvio que o tema está longe de ser esgotado, mas já consigo ver nele um excelente objeto de pesquisa.
Joice Stêfani disse…
Este comentário foi removido pelo autor.
Joice Stêfani disse…
Olá Professor, finalmente consegui um tempinho para ler o texto e comentar. Quanto ao gosto pela leitura, eu acho que depende, se estiver lendo um livro de ficção por exemplo, que prenda minha atenção, que sejá uma estória interessante, que me transporte a outro mundo, eu acredito sim no gosto pela leitura, eu sempre digo que gosto de ler, e gosto mesmo, mas realmente quando se trata de ler com intuito de adquirir conhecimento, aprender e apreender novas informações, aí eu leio pq tenho que ler, aí sim LEITURA É UM TRABALHO QUE DÁ PRAZER, a sua máxima aliás, define bem esta questão, pq dá trabalho,exige força de vontade, concentração e determinação, mas o prazer que sentimos ao aprender algo novo, e poder compartilhar e falar com competência e fundamento sobre determinados assuntos é inigualável.