PROVA DO ENEM NÃO TEM GRAMÁTICA!? (Artigo)

ANÁLISE MAIS DETIDA COMPROVA QUE AVALIAÇÃO DO ENEM NÃO CONTEMPLA QUASE NADA DA GRAMÁTICA NORMATIVA: MAS O QUE É A GRAMÁTICA?

Autora: Valdenice Oliveira Mendes
Orientador: Rômulo Giácome de Oliveira Fernandes

RESUMO

O presente artigo tem como objetivo promover um estudo a respeito das provas do Exame Nacional do Ensino Médio - Enem 2008 e 2009, e descrever como a gramática normativa está sendo utilizada no Enem nesse período e se o exame contempla e exige os conhecimentos gramaticais. Por meio de uma análise, compreender se essas as provas do Enem contemplam as questões gramaticais, saber como, e onde contemplam e o grau de profundidade. Parte de referências conceituais fruto de revisão bibliográfica com leitura verticalizada para fundamentação teórica e respaldo metodológico, respeitando a técnica Crítico/Conceitual. Serão efetuadas análises descritivas das questões de Língua Portuguesa, onde serão avaliadas e classificadas segundo critérios específicos da pesquisa. Após esta classificação, as provas serão comparadas e os resultados serão expostos descritivamente e interpretados à luz da pesquisa qualitativa, sob o ângulo dos teóricos que embasam esta prática. Dos resultados obtidos, foi possível verificar que as questões de Língua Portuguesa do Enem 2008 e 2009 não contemplam a gramática normativa como deveria ser contemplado. Assim, é possível destacar que há uma necessidade maior em cobrar a norma gramatical da Língua Portuguesa nas questões do Enem, para que se possam ser cobradas as habilidades do aluno em relação a Língua Portuguesa.



INTRODUÇÃO
Este artigo tem o objetivo de verificar como as questões do Enem contemplam o ensino da gramática normativa; compreender como as regras ou informações gramaticais são exigidas nas questões, bem como sua contextualização e também descobrir quais os objetivos das questões contemplando competências e habilidades. Neste, será colocado em questão o ensino da gramática desde que se iniciaram as avaliações do Enem. É possível perceber que a cada ano que passa, as questões com normas gramaticais vêm aparecendo cada vez menos. É por isso que se faz necessário repensar nas formas de ver as questões gramaticais nas provas do Enem, mostrar ao aluno a relevância da linguagem culta por meio da gramática normativa para a sua formação intelectual e profissional. Verifica-se que não há como ensinar gramática isolada do contexto social do aluno, porém ela não deve ser deixada de lado. Medir as habilidades e competências de um aluno vai além de questões com enunciados que agucem o seu raciocínio.
Assim como é necessário que o aluno aprenda os campos que compreendem a gramática (fonética, morfologia sintaxe e semântica) na escola, é necessário também que tais questões sejam acrescentadas às questões do Enem. Desta forma, é necessário que haja uma visão mais ampla em relação a elaboração das questões sobre o ensino da gramática. Tais medidas podem ser a base para que a visão em relação ao ensino da gramática nas avaliações do Enem seja ampliada, valorizada e, o mais importante, que acrescente ao aluno uma aprendizagem significativa. Desde a época antiga quanto atualmente, o ensino da gramática normativa é de grande importância para a formação intelectual do indivíduo. Com a falta de hábitos de leitura de milhares de brasileiros, o contado com a linguagem culta, bem como as normas gramaticais vai ficando cada vez mais escasso. Sabe-se que a prática de leitura nas aulas de língua portuguesa, vem a auxiliar o aprendizado das normas gramaticais, propiciando ao indivíduo um contato gradativo com a língua portuguesa. Esse contato é que faz com que a maioria dos leitores esteja preparada para realizar uma avaliação como a prova do Enem no final do Ensino médio. Porém, é possível perceber que, com o advento do Enem, as questões gramaticais vão ficando cada vez mais deixadas de lado. Desta forma, como está o ensino da gramática desde que surgiu o Enem? E como essa avaliação absorveu a gramática, principalmente nos anos de 2008 e 2009? Uma pessoa não aprende regras gramaticais com fragmentos de textos isolados do contexto social, mas sim com leituras significativas. Isso deixa claro que a prática de leitura tem relevância para o indivíduo, como também, faz-se necessário que o ensino das regras gramaticais esteja presentes nas aulas de Língua Portuguesa e também nas avaliações para medir como está o desenvolvimento do aluno. O Exame Nacional do Ensino Médio - Enem vem sendo uma das portas para que o aluno, ao sair do Ensino Médio, venha a se ingressar no ensino superior. Sua importância para avaliar o aprendizado do aluno é bastante significativa, uma vez que é por meio dela que ele irá apresentar suas habilidades e competências em todas as áreas do conhecimento e se mostrar apto para o mercado de trabalho. O presente artigo poderá ajudar os alunos, professores e escolas em relação à visão da importância do ensino da gramática e também, avaliar como está sendo atribuído o valor às questões gramaticais na avaliação. Este trabalho visa esclarecer o nível de profundidade da gramática aplicada nas questões do Enem em Língua Portuguesa, como já foi dito e para isso, serão verificados em três níveis: o primeiro, como é o ensino das regras gramaticais (normativo) nas provas do Enem; a segunda, verificar se existem fragmentos de textos que exigem a norma culta e terceiro, verificar se existem apenas interpretações de texto.

1 GRAMÁTICA: POR QUE É IMPORTANTE APRENDÊ-LA?Sabe-se que cada ser humano possui sua gramática internalizada. Toda pessoa possui seus conhecimentos linguísticos internos independentes de ir à escola. Seus conhecimentos linguísticos internos obedecem aos conhecimentos lexicais sintáticos e semânticos da língua. (POSSENTI, 2001) Percebe-se que não há só língua, mas sim, as línguas faladas e a língua escrita. Tais variações são causadas devido aos fatores internos da língua ou fatores sociais.
Quando um falante aprende a conhecer um verbo, perceberá que é uma palavra que pode variar em pessoa e tempo, isso, por causa do conhecimento implícito do indivíduo. Mesmo sem se dar conta, ele conhece cada palavra que pode conjugar. Nunca irá, por exemplo, conjugar a palavra “computador” ou a palavra “sempre”. (PERINI, 2002) O que se percebe é que ele necessita de ir à escola apenas para aperfeiçoar esses conhecimentos que já possui. “O domínio de uma língua é o resultado de práticas efetivas, significativas, contextualizadas.” (GERALDI (ORG), 1999, p. 36) Neste caso, o aluno precisa aprender a externar seus conhecimentos linguísticos na escrita, o que irá necessitar de uma aprendizagem adequada para somar a linguagem escrita a qual segue as regras gramaticais à sua gramática internalizada. A prática do ensino da gramática não deve ser uma prática exaustiva, mas sim, algo contextualizado com as práticas sociais do aluno, isso, para que ele possa acrescentar os conhecimentos da norma culta aos que já possui.
Uma das formas de terem contato com a língua escrita é por meio da prática de leitura e da prática da escrita de textos. Também, a forma de conceituar o momento da fala do aluno com as regras gramaticais, a prática do ensino da língua escrita pode tornar-se um método muito significativo Um dos problemas apontados por muitos críticos à língua e linguagem, é que os ensinos da gramática nas escolas estão sendo feitos de forma inadequada pelo fato de, mesmo com algumas teorias novas, as metodologias ainda são muito antigas.
Na escola, Geraldi (1999) defende que tal processo pode ser feito por meio da prática da leitura, da escrita e também do ensino das próprias regras gramaticais, com exemplos significativos para o aluno, defendendo, é claro, os métodos que incluam uma contextualização desses ensinos na vida dele.

Parece-me importante, sobretudo nos primeiros anos de contato com os textos, exercitar a leitura e a escrita, para que a reflexão teórica e histórica sobre eles se dê a partir de uma convivência e do processo que os gera: o trabalho criativo com a linguagem, a prática da expressão livre. (GERALDI (ORG), 1999, p. 22)

O ensino da gramática nas escolas junto à prática da leitura deve exercer a função de formar o cidadão um ser crítico, consciente do seu próprio discurso. Estudar a língua é, então, tentar detectar os compromissos que se criam por meio da fala e as condições que devem ser preenchidas por um falante para falar de certa forma em determinada situação concreta de interação. (GERALDI (ORG), 1999, p. 42)

O ensino da gramática nas escolas deve ser visto como um conjunto de atitudes que possam gerar benefícios maiores ao aluno, um deles, é poder comprovar suas habilidades e competências em uma avaliação como o Exame Nacional do Ensino médio - Enem.
Tais atitudes não podem partir apenas por parte do professor ou da escola, mas também da comunidade, do Estado e do Ministério da Educação. É possível ver que o problema da falta de domínio da escrita pela maioria dos jovens que terminam o ensino médio, é atribuído também às irresponsabilidades administrativas para com o ensino, bem como a falta de condições econômicas à educação. (GERALDI (ORG), 1999)
O baixo índice dos resultados das avaliações no Brasil pode ser causado por inúmeros fatores: além da falta de políticas públicas para a educação, falta de valorização aos profissionais da educação, não há também a prática dos métodos avançados de se ensinar a gramática, bem como a falta de recursos escolares para que o professor possa realizar um bom trabalho em sala de aula. Não há um apoio e métodos adequados para a educação, do contrário, não haveria o vergonhoso baixo índice de leitura. Quando há o ensino das regras gramaticais sem contextualização é possível avaliar que o aluno poderá adquirir uma visão de que a língua escrita é algo difícil e “chato”.

Podemos, sim, fazer o aluno crescer em linguagem, aumentando o vocabulário, os recursos expressionais, tomar consciência das potencialidades da língua. E dominar a escrita, pontuação, estrutura e parágrafos, técnicas de correção e aperfeiçoamento estilístico, variabilidade expressional. (LUFT, 2006, p. 88)


Desta forma, não há como cobrar questões com habilidades e competências sem aprender a internalizar as regras gramaticais por meio do aproveitamento do que o aluno já possui; não com exemplos de ensino isolados. O resultado disso tudo é o grande índice de reprovação nas avaliações, pois, sabe-se que o aluno possui seus conhecimentos e suas competências linguísticas internalizadas, mas com a diferença da língua escrita, aumenta a dificuldade, na maioria das vezes, de ler e compreender um enunciado.

2 AS QUESTÕES DE LÍNGUA POTUGUESA DO ENEM NAS AVALIAÇÕES 2008 E 2009É sempre bom perceber a alegria de um estudante ao conseguir atingir os objetivos depois de um longo tempo de preparo nos estudos, contando o ensino básico todo. É possível perceber que, nesse preparo para o Exame Nacional do Ensino Médio- ENEM são exigidas habilidades e competências em várias áreas dos conhecimentos, e uma delas, é: Linguagem, Códigos e Suas tecnologias. É nesta área do conhecimento que estão inclusas as questões de Língua Portuguesa.
É possível perceber que tais questões de língua portuguesa exigem do aluno, um raciocínio hábil na área da linguagem. E as interpretações desta área do conhecimento, bem como as questões que envolvem o raciocínio lógico são bem mais exigidas do que a norma gramatical da Língua portuguesa nas questões do ENEM. Isso é bastante positivo, no entanto, é necessário levar em conta a necessidade de se exigir que as regras gramaticais também sejam bem mais cobradas desse aluno que se prepara para as questões do Enem, de forma que o seu desempenho seja bem mais proveitoso em relação ao aprendizado da Norma Culta da língua.
Antes mesmo de relatar dados desta pesquisados, é preciso levar em conta a necessidade lembrar que o conhecimento gramatical é todo o complexo normativo da língua engessado em certos conteúdos exemplares tais como: concordância, ortografia, regência, mesóclise, pretérito imperfeito, pretérito mais-que-perfeito, entre outros.
É válido lembrar que ao observar à prova do Enem 2008, cor azul, as questões que contemplam a Língua portuguesa são 10 ao todo. Já da prova do Enem 2009, também de cor azul, as questões que contemplam a Língua Portuguesa vão de 91 à 135, um número de questões bem maiores do que no Enem de 2008.
No ENEM 2008, é possível perceber que há uma prioridade em testar os conhecimentos do aluno nas interpretações textuais nas quais são testadas o raciocínio do aluno e também sobre literatura, como pode ser percebido nas questões 09, 12 e 13. Nesse caso vemos claramente do que se tratam as questões. Outros pontos marcantes na área de Linguagem, Códigos e suas Tecnologias é a linguagem tratando neste caso das linguagens formal e informal, como trata a questão 14 do ENEM 2008, já no que se toca a questão gramatical, não apresenta nenhuma questão com a norma gramatical de forma explícita.
Na prova do ENEM 2009, além de tratar da linguagem formal e informar (culta e coloquial), interpretações textuais, linguagem literária, funções de linguagem, gênero textual, funções de linguagem, língua falada e língua escrita, entre outros. No que se trata explicitamente da norma gramatical da L.P, é possível verificar que a questão de número 96 da prova azul do ENEM 2009, menciona nas alternativas desta questão, orações subordinadas e pronomes.
Em se tratando da prova do ENEM 2009, nas questões que envolvem a Língua Portuguesa é possível verificar que é muito raro uma questão que trata da gramática normativa.

Os principais recursos utilizados para envolvimento e adesão do leitor à campanha institucional incluem:
A – O emprego de enumeração de itens e apresentação de títulos expressivos.
B – O uso de orações subordinadas condicionais e temporais.
C - O emprego de pronomes como “você” e “sua” e o uso do imperativo.
D – A construção de figuras metafóricas e o uso de repetição.
E - O fornecimento de número de telefone gratuito para contato.

No que toca à gramática normativa, surgem de forma quase que implícita e noutros casos, bem superficiais, ou seja, não está sendo contemplada como deveria. No caso da única questão que mencionou a gramática normativa, ela surgiu “de relance” entre as alternativas, o que dá a entender que o nível de profundidade é bastante superficial e não contempla a norma gramatical como um todo.
Há uma preocupação em fazer com que o aluno consiga mostrar habilidades em: detectar a diferença entre linguagem culta e coloquial, linguagem falada e escrita, funções de linguagem, onde possa detectar quem é o emissor e o receptor de uma mensagem, entre outros pontos. Neste caso, a gramática está implícita dentro dos textos e das questões, porém, a gramática normativa quase não é mencionada.
Isso quer dizer que a norma gramatical da LP não está sendo tanto exigida nessas avaliações como deveria ser, em outras palavras, as questões do Enem 2008 e 2009 de Língua Portuguesa não contemplam a gramática normativa em um todo, como deveria ser contemplada.
Neste caso, é possível perceber que as questões de língua portuguesa que envolve a gramática são pouco mencionadas, levando em questão à importância de se aprender a gramática da língua portuguesa para que assim o aluno possa entender com mais clareza a língua que ele utiliza no seu cotidiano, bem como a diferenciação dessa língua falada com a língua escrita que é muito cobrada dele nas aulas de LP.
Uma sociedade anti-leitura na qual a maioria dos alunos tem preguiça de ler, é muito complicado aprender a gramática normativa e sua diferença entre a língua que ele utiliza no cotidiano e a norma culta, sem que ele encontre a necessidade de aprendê-la.
É bastante compreensível que as questões do ENEM 2008 e 2009 que se tratam da Língua Portuguesa são estruturadas com base nos conhecimentos que o aluno deve saber ao concluir o Ensino Básico. É neste pondo que colocamos em questão as competências a habilidades.
Por ser um Exame Nacional do Ensino Médio e carregar tantas responsabilidades e cobranças do Ensino Básico, é possível ver que não há uma cobrança maior das regras gramaticais nas provas do ENEM, isso faz com que o aluno não dê tanta importância para a gramática, ou pela dificuldade de compreensão e ou mesmo pelo desinteresse de achar que não é tão cobrado.
No caso das questões mencionadas que se tratam da LP, é muito importante valorizar a linguagem seus códigos e tecnologias, bem como explorar os conhecimentos linguísticos que circundam o universo do aluno e, nas provas no ENEM é bastante claro esses descritores. Mas o que é preciso entender é que, se não são cobradas essas normas gramaticais de forma explícita e com frequência nas questões do ENEM, o aluno não irá se preocupar em aprender a gramática normativa.
É sabido que há uma gramática implícita nessas questões, porém, a gramática normativa de maneira explícita, onde fica? Qual é a sua importância numa sociedade que não gosta de ler e, portanto, não se depara com ela a não ser na sala de aula ou em algum curso preparatório? É necessário levar em consideração, desta forma, que não há como aprender a norma culta da LP se não estiver presente, a gramática normativa.

CONSIDERAÇÕES FINAISNeste artigo foram analisadas as questões de Língua Portuguesa do Enem 2008 e 2009 para verificar qual é o nível de profundidade da gramática normativa presente nas avaliações: primeiro, se há gramática normativa, segundo, se há fragmentos de textos que exigem a norma culta e terceiro, se existem apenas interpretações de texto.
Desta forma, foi possível perceber que tais avaliações não contemplam o primeiro nível dos conteúdos engessados, mas sim, os dois últimos níveis. Assim, é possível perceber que tais avaliações privilegiam mais as condições de uso da Língua Portuguesa, do que as condições teóricas sobre a língua, ou seja, há uma preocupação em como o aluno está usando ou mesmo irá usar a língua, e não, se ele está aprendendo ou irá aprender as regras da gramática normativa.

REFERÊNCIAS

BECHARA, Evanildo. Ensino da gramática. Opressão? Liberdade?. São Paulo: Ática, 1991.
GERALDI, João Wanderlei (org.). O texto na sala de aula. 2. ed. São Paulo: Ática
PERINI, Mário A. Sofrendo a gramática. São Paulo: Ática, 2002.
POSSENTI, Sírio. Porque (não) ensinar gramática na escola. Campinas: Mercado de Letras, 2001.
LUFT, Celso Pedro. Língua e liberdade. 8. ed. São Paulo: Ática, 2006.

Comentários

Emilia disse…
OLÁ PROF CADA VEZ QUE LEIO SUAS PUBLICAÇÕES APRENDO MAIS.
Parabens pela criatividade.