COMUNICAÇÃO E PERSUASÃO: A IDEOLOGIA DO SIGNO

By Helem Cristiane Aquino dos Anjos Fernandes*

Mikhail Bakhtin foi um dos primeiros estudiosos a atentar para a importância de se estudar a natureza do signo linguística para se reconhecer os tipos de discurso. Esse interesse o levou a formular uma das mais brilhantes teorias sobre o assunto. Em seu livro Marxismo e filosofia da linguagem, o teórico expõe que é impossível afastar dos estudos das ideologias o estudo dos signos. 
Há entre signo e ideologia uma relação de interdependência. Desse modo só é possível o estudo dos valores e idéias contidas no discurso analisando a natureza dos signos que os constroem. Para esclarecer melhor essa relação existente entre signo e ideologia, observe o seguinte exemplo: Janaína brigou com seu namorado. No dia seguinte enviou-lhe um buquê de rosas vermelhas. Implícito nesse ingênuo buquê de rosas contempla-se a simbologia do amor expresso pela cor das rosas, o vermelho, a intencionalidade de mostrar-lhe o seu arrependimento e o seu pedido de desculpas e, principalmente, a intencionalidade de persuadi-lo a perdoá-la. O signo flores é muito rico em seu conteúdo significativo, capaz de veicular inúmeras ideologias e intencionalidades. Segundo Bakhtin, “Tudo que é ideológico é um signo. Sem signo não existe ideologia” (BAKHTIN, 1979. p.17).
Existem instrumentos que perderam o seu sentido inicial para se transformarem em signo, isto é, passaram a funcionar como veículo de transmissão de ideologias. A pomba, por exemplo, passou a representar a paz, assim como a balança representa a justiça e o cifrão representa o dinheiro. Em todos esses exemplos, é possível saber até onde existe instrumento ou produto de consumo, e onde começa o signo. Em uma única palavra estamos diante da passagem do plano denotativo para o plano conotativo. O vinho enquanto tal denota uma bebida; entretanto, no contexto religioso, passa a conotar o sangue de cristo.
Nós seres humanos temos a capacidade de absorver as palavras para transformá-las e reproduzí-las. Desenvolvemos, dessa forma, um circuito de formação e reformulação de nossas consciências. Partindo desta observação, é possível dizer que o modo de conduzir o signo é de fundamental importância para a compreensão dos modos de se produzir à persuasão.
É interessante observar que uma das preocupações da linguagem persuasiva é provocar reações emocionais no receptor. Dessa forma, o discurso persuasivo se vale de recursos retóricos com a principal finalidade de convencer e ou alterar comportamentos e atitudes. Portanto, ele se apodera de signos que tem possibilidades de superposição, ou seja, o coração é um signo que tem possibilidades de superposição, pois pode representar o amor, assim como a maçã pode representar o pecado ou a sedução.
            Quando o principal interesse da mensagem é atingir o receptor no intuito de o convencer sobre alguma coisa, a função conativa entra em ação. A etimologia da palavra conativa vem do latim conatum, cujo significado é convencer o receptor através de um certo esforço. Portanto a função conativa pode ser denominada, a função da linguagem que visa a persuasão dos interlocutores. Este é o tipo de linguagem mais comumente utilizada em propagandas.
Para a linguagem da propaganda, por exemplo, as mensagens construídas visam essencialmente atingir o receptor. Possuem, no seu ato de configuração dos signos, características de função poética, visando sensibilizar o público pela beleza da argumentação. Por trás da mensagem publicitária há sempre o imperativo do consumo da mercadoria apresentada. (CHALHUB, 1990. p.23/25).

            Os recursos utilizados pela retórica, como a metáfora, a metonímia, a hipérbole, o paradoxo, entre outros, tornam o discurso potencialmente persuasivo. A palavra, o discurso e o poder se completam quando o intuito é persuadir.
            A argumentação, segundo algumas teses, pode ser considerada a função básica da linguagem e da comunicação, isto é, o ato de argumentar pode ser entendido como o ato de persuadir. A necessidade do homem em se comunicar, de interagir socialmente, o leva, de alguma forma, a desejar exercer influência sobre o mundo que o cerca. Por intermédio da língua dota seu discurso de intencionalidades, veiculando dessa forma ideologias por meio da argumentação.
            Conclui-se que todos os tipos de discurso, dos mais simples aos mais elaborados, carregam consigo a mesma característica: intencionalidade de veicular algum tipo de ideologia de modo a exercer influencia no comportamento e nas atitudes do interlocutor. Até mesmo o próprio silêncio, num determinado contexto, pode veicular alguma intencionalidade, de representar o luto, a indiferença, a perplexidade, e etc. Em fim, todos os tipos de discurso se valem de signos verbais ou não verbais para veicular ideologias.         

A autora é Letróloga pela UNESC/RO, Especialista e Professora da Rede Estadual de Educação.  

Comentários

LEANDRO 3º LETRAS disse…
AÍ ESTA UMA BELA ANÁLISE CRÍTICA DO SIGNO. COM BASE EM UM DOS GRANDES MESTRES NO ASSUNTO A AUTORA TRATOU COM MAESTRIA DO ASSUNTO. PARABÉNS.
LEANDRO 3º LETRAS disse…
AÍ ESTA UMA BELA ANÁLISE CRÍTICA DO SIGNO. COM BASE EM UM DOS GRANDES MESTRES NO ASSUNTO A AUTORA TRATOU COM MAESTRIA DO TEMA. PARABÉNS.