TEXTO, DISCURSO E IDEOLOGIA: ENTRE DUAS VERDADES CIRCUNSTANCIAIS
By Rômulo Giácome de Oliveira Fernandes
Entre a especificidade e
localidade do texto, a mobilidade e processualidade do discurso. Onde o texto
acaba por ser ponto de referência o discurso o utiliza formando seu mosaico de
referentes. O texto enquanto suporte da comunicação, enquanto teorização na
maioria das hipóteses, ou descrição / narração em outras. A criação em dados
momentos. Mas no fim, o efeito total e totalitário é do discurso. Discurso
enquanto finalidade. Discurso enquanto efeito proporcionado por um conjunto de
fatores dentro / fora / com a linguagem.
Não a linguagem restrita, baseada
apenas na relação significante e significado. Mas a linguagem enquanto
comportamento e valores, linguagem enquanto juízos a partir de signos não
somente maternos, mas derivados de referências outras e afins, ou até não
referências ou formas diferentes de indiciar.
A capacidade última de comunicar
não pode ficar restrita ao texto, este texto entendido como recorte.
Como portador de um conteúdo. Mas sim teríamos corretamente um texto maior, já construído, em construção e por ser construído, baseado em um estar sendo, na negação e na afirmação. Como uma espécie de leitura constante, um texto dialogando com outro texto e assim percebendo-se enquanto maior.
Como portador de um conteúdo. Mas sim teríamos corretamente um texto maior, já construído, em construção e por ser construído, baseado em um estar sendo, na negação e na afirmação. Como uma espécie de leitura constante, um texto dialogando com outro texto e assim percebendo-se enquanto maior.
Por outro lado o discurso
transborda o texto. É texto fora e dentro, mas também um conjunto de mais
diálogos entre textos, ou o próprio diálogo, ou correlações entre textos que
não são escritos, são comportamentos ou atitudes, axiomas transmitidos por
signos sutis. O discurso acaba por construir-se a partir de posições
discursivas / ou referentes de vozes que, ao final, ou um ponto, define um
efeito de sentido não controlado, mas tentado, que acaba por construir
identidades e comportamentos, afetando a cultura, definindo sujeitos e redefinindo
a própria noção de subjetividade. (FIORIN)
Eu não posso afirmar que o
restaurante que inaugurou, constituído texto, aqui alegorizado, com ótimo
serviço, boa decoração, boa comida e médio preço pode ser a segurança de uma
experiência comunicativa agradável. Na decisão entre ir ou não, um conjunto de
pontos de referência ecoam, decidindo se sim ou não, o custo benefício. Na
entrada um conjunto de vozes me determinam onde sentar e como sentar, o que
comer e como comer. E se lá está um inimigo, já tenho um ponto referente que
pode acabar com a noite. Assim como uma discussão. Posso sair de lá com uma
péssima referência ou trauma, como posso sair de lá otimamente. Este percurso
gerativo de sentido é incontrolável, como o é a linguagem jogada ao público,
semeia aqui e ali, floresce onde provavelmente floresceria ou onde nem
imaginaríamos que florescesse.
Em como o texto, antes de ser
lido, já é interpretado, julgado e avaliado, prescrito e entendido. Antes de
tudo a ação judicativa da cultura. A cultura enquanto comportamento do leitor
projetando no texto sua leitura. Em quanto não temos domínio total dos efeitos
de sentido do texto, que se religioso, encontra fértil terreno no crente, se
ateu, pode morrer sem argumento. A intensidade do discurso tem que encontrar
eco na cultura, se encontrar, conjuminar, existir e promover efeitos.
Cultura enquanto código de
valores e juízos engendrados no comportamento. Comportamento do leitor e do
indivíduo que reproduz estes valores e os utiliza. E como o poder dominar estas
referências constituem dominar um tipo de leitura, um tipo de valor, culminando
em ideologia. Assim como a violência simbólica, advinda do esposo para com a
esposa, ou do pai para com o filho, do policial para com o indivíduo. Assim
como o poder simbólico, que reúne e exclui, pois enquanto estruturação, induz
ao rótulo. (BORDIEU; FOUCAULT).
Nenhuma leitura é imparcial,
neutra ou insólita, desde que usando os códigos deste tempo, espaço e cultura.
O discurso humano é contaminado. Proferido de marte seria inteligível? Seria
neutro? Não seria neutro nem inteligível, pois o entendimento do signo na
linguagem é sempre uma operação ideológica. (BAKTIN).
Assim, é irrelevante discutir ou
descobrir, na dialética dos juízos de certo ou errado, o que é certo ou errado,
direita ou esquerda. Da natureza do próprio discurso ser dialético, ser
valorativo e ser ideológico, pois a comunicação, em primeira instância, só
existe conectada à ideologia, enquanto estruturação do pensamento social do ser
falante, acaba por hierarquizar categorias de signos e suas interpretações.
E as verdades? Enquanto feitas da
natureza “linguagem” não existem enquanto situações circunstanciadas e
legitimadas por um tempo / espaço do agora. Isto porque são feitas de elementos
que não existem sozinhos. De partículas de uma matéria fluídica chamada
linguagem, que necessita se hierarquizar para ser Inteligível, de valores e
comportamentos, de referências que estão sempre além. Assim, não existem por si
mesmas, ontologicamente. São metáforas? (NIETZSCHE).
Entendê-las dentro da ideologia e
entendê-las como representação e o peso axiológico que ela tem na vida cultural
de cada um. Um Jesus loiro de olhos azuis sangrando na cruz? Ou Buda sentado,
meditando? Ou satanás reunido em Paraíso Perdido? Ou a fuga de Adão e Eva do
renascimento? Ou o capeta de tridente e queimando no fogo do inferno? Dentro da
ideologia existe um efeito prático de sentido, que respinga, senão é o próprio
comportamento do indivíduo dentro de sua cultura.
Compreender e tentar situar as
verdades é apenas um trabalho de catalogação e legitimação de um discurso,
proferido de uma pessoa autorizada. Esta autorização ocorre por mecanismos não
domináveis, muitas vezes sociais e poucas vezes originais, genéticos quem sabe?
Mas o trabalho de legitimação é ofício da ideologia, que controla os valores
por meio das representações, por meio de declarações de certo e errado, por
meio da religião, história e política, por meio do Direito e dos códigos de
Ética.
Assim, é interessante entender a
verdade como uma declaração que, feita de linguagem, é dita para alguém, em
condições culturais ou não de decodificá-la e assimilá-la de maneira eficaz.
Alguns estão mais propensos. Qual o significado da óstia para o índio? Atahualpa
negou o princípio religioso Espanhol e foi degolado em praça pública.
A ideologia propõem-se sempre pelo
poder opressivo do enquadramento social, do medo ou da inclusão; o medo imposto
pelas representações culturais da idade média; a inclusão do modo de vida
consumista de hoje.
Assim, por que verdades? Este
rótulo tem um ranço de idealismo sobrenatural.
Comentários
Me interessei bastante por esse assunto.
É incrível como Análise do Discurso estuda a linguagem. Ao passo que passamos a conhecê-la percebemos que todos somos de alguma maneira indivíduos assujeitados. Pois, ao analisarmos melhor nosso próprio dircuso verificamos que de certa forma o que pensamos e reproduzimos foi construídos com base em algo que ouvimos ou lemos e achamos interessante e que sem percebermos começa a fazer parte da nossa vida. Realmente o texto é muito interessante. Um ótimo material de pesquisa.
Que Deus te ilumine.
De repente você pode ser mais um dos muitos que gostaram, e com um bom discurso dominante, na hora certa passe adiante as informações convencendo mais gente, por isso vale a pena adotar a ideologia como principal ferramenta!
Muito interessante. Parabéns pelo artigo professor!
Abraço
Também contribuirá para muitas outras pessoas que ainda tem dificuldade de entender sobre o assunto, Parabéns.
Acredito que este texto possa ser útil para a prova, da qual estou morrendo de medo.
Parabéns pelo texto, professor.
Valdecir Fernandes
PARABÉNS PROFESSOR PELO ARTIGO AJUDOU-ME A ESTUDAR PARA A PROVA.
AGRADEÇO A CONTRIBUIÇÃO!!
PARABÉNS PROFESSOR PELO ARTIGO AJUDOU-ME A ESTUDAR PARA A PROVA.
AGRADEÇO A CONTRIBUIÇÃO!!
aquilo em que é transmitido através dos discursos e sem dúvida nos lapida cada vez mais para crescermos intelectualmente .Congratulations! Mestre.