VIAGEM MINAS GERAIS (JANEIRO/2017) - BELO HORIZONTE, BRUMADINHO "INHOTIM", OURO PRETO, MARIANA E TIRADENTES (ROTA BARROCA E CAMINHO REAL)
Esta viagem foi realizada entre os dias 02 e 12 de janeiro, trafegando pelo solo mineiro em busca de suas belezas naturais e o principal objetivo: o barroco tardio de Aleijadinho e companhia, disperso em algumas cidades próximas ao reduto do ouro Colonial. Esta viagem foi ensaiada durante muitos anos e agora chegava a sua execução.
1 Dia. 02/janeiro. A saída de Caldas Novas foi tranquila e a grande ansiedade da
viagem, neste primeiro momento, era ter contato com a culinária Mineira.
Seguimos a rota passando por Araguari e almoçando antes de Patrocínio, em um
restaurante Carro de Boi, o que nos foi típico. A comida não foi nada de
especial, pelo menos aquilo que já estamos acostumados a comer aqui na roça:
frango com quiabo, abobrinha, carne cozida e outras coisas simples, que tanto
gostamos, mas que não diferenciam do que comemos aqui. A Chegada em Belo Horizonte se deu às 16
horas, passando por regiões industriais de Betim e do grande fluxo urbano
natural. Nossa hospedagem ficava na quadra de baixo, na região da Pampulha.
Lugar excelente, quase de frente à Universidade Federal de Minas, em um
condomínio fechado, com um excelente apartamento, limpo e bem mobiliado. Valeu
a pena o uso do Airbnb. A avenida principal passava logo a cima e em menos de
uma quadra havia uma estação de ônibus. Logo que chegamos, tomamos banho e
fomos direto procurar um Shopping na cidade. Não me recordo o nome, mas
passeamos, jantamos e fomos dormir, pois no outro dia iríamos conhecer o largo
da Pampulha.
2 Dia 03/Janeiro. Neste dia iríamos fazer uma caminhada pelo Largo da Pampulha.
Pegamos sentido centro e notamos que estávamos errados. Voltamos e passamos em
frente à Universidade Federal de Minas Gerais e seguimos à direita para o
Mineirão; ele estava aberto, mas não quisemos entrar; passamos e fotografamos;
conhecemos o Mineirinho também, até chegarmos no largo. A visão é bela, o lago
é lindo. Em suas margens é possível caminhadas e pedais. O primeiro ponto de
contato foi a capela de São Francisco de Assis (Igreja de São Francisco de Assis). Os murais de Cândido Portinari
e as linhas paralelas de sua capela, projetadas por Oscar Niemayer são
exemplos de arte moderna. É importante lembrar que o projeto arquitetônico
de Oscar Niemayer, aquele que é mais relevante, acabamos por não visitar, infelizmente. O Corpo de Baile e outros, que estão do outro lado do lago, deixamos
para a próxima. A tarde, pegamos o ônibus no terminal e fomos
para a praça Liberdade. A praça tem relevância histórica, por ser o centro
formador de Belo Horizonte. Tem palacetes antigos ao redor, incluindo o Centro
Cultural Banco do Brasil e alguns museus excelentes. O museu de Minas e Metais
da Gerdau e o memorial de Minas Gerais, da Vale. Este último nos fez entender
mais detidamente a história de Minas, a importância da Mineração, dos
pensadores mineiros, da história da cidade de Belo Horizonte (que nasceu
planejada) dentre outras coisas. Acredito ser crucial visitar o museu antes de
adentrar no circuito colonial de Ouro Preto e região, uma vez que amplia a
visão que temos destes locais. O dia encerrou pegando a movimentação dos
coletivos que nos levariam até nosso bairro. No centro, algumas avenidas nos lembrava Buenos Aires.
Detalhe abaixo: linhas planas, paralelas e circulares; combinação de categorias essenciais.
Acima, Museu da Memória de Minas, Gerdau; Sensacional. O primeiro contato com a Cultura de Minas. Abaixo: alameda na praça da Liberdade, inspiração francesa.
Dia 3. 04/Janeiro. Neste dia sairíamos cedo
para conhecer o famoso Mercado Municipal de BH. Todo viajante conhece a
importância dos mercados Centrais para o conhecimento da cultura local. O
Mercado de Belo Horizonte é particular. Muitos produtos, muita cultura e bons
preços. A primeira impressão foram os queijos, principalmente da Serra da Canastra. Duas
variedades dominavam naquele dia. Compramos e provamos. Diferenciado. O segundo
ponto legal foram as cachaças e a cervejaria Backer. Quando forem a Minas não
deixem de adentrar no universo desta cervejaria. Experimentei duas cervejas
especiais, gentilmente oferecidas por dois mineiros sensacionais: degustei a "Don Corleone" e a "Pele Vermelha". No boteco encontramos o
espírito de Minas. O espírito de confraternização. Provamos algumas cervejas
artesanais e comemos o picadinho de fígado com jiló. Aprovado. Depois de um bate-papo, algumas doses de cachaça e compras especiais, terminamos a manhã no Mercado felizes e deslumbrados. Depois do almoço subimos a pé para a praça Liberdade, aproveitar o resto do dia. Sentimos falta de mais restaurantes ao redor da praça. Como a cidade de Belo Horizonte nasceu planejada, como forma de ampliar as possibilidades da capital mineira, a praça Liberdade passou a ser o marco inicial e também político de BH.
Acima, visão dos corredores e abaixo, queijos.
O Mineiro é bom de papo;
Abaixo, picadinho de Jiló e Fígado com cerveja Becker.
Abaixo, o Pão de Queijo.
4 Dia. 05/Janeiro. Dia de
Inhotim. Dia especial e esperado. Conhecer o maior museu de arte contemporânea
e paisagismo integrado do mundo. Para isso saímos cedo e nos encaminhamos para
Brumadinho, cidade próxima de BH. Chegamos antes da 10 horas da manhã no
Inhotim, e já sentimos que não é um museu comum. Tanto pelo tamanho de
estacionamento, quanto pela beleza do receptivo e as surpresas que nos
aguardariam. Ficamos um bom tempo na fila, esperando a compra do
Ingresso. Uma vez lá dentro é impossível visitar todo o museu, detalhadamente,
em um único dia. São três roteiros, marcados por cores, (se não me falhe a
memória). Fizemos parte de um roteiro e pedaços de outros, deixando grandes instalações
artísticas e paisagísticas de lado. Mais detalhes na postagem: INHOTIM (matéria semiótica neste site) Concluímos a
visita antes das 16:00 horas da tarde, tempo para dormirmos em Itabirito, uma
cidade que possui um nome a descobrir. A cidade pedra de Carlos Drummond de
Andrade. Dirigi de Brumadinho a caminho de Itabirito. Sem antes nos perdemos em
uma estrada de terra que parecia levar a pequenos lugarejos. Assim que
conseguimos enquadrar no GPS um destino possível, maior, fizemos um pequeno
retorno que nos fez perder alguns quilômetros. Daquele ponto então, a estrada
iniciou uma vertiginosa subida pela montanha. Até que chegamos ao conhecido
Topo do Mundo, que também tem escola de parapente, restaurante e outras coisas
que proporcionam uma vista sensacional. Local com uma visão maravilhosa das
montanhas mineiras. Valeu a pena parar e fotografar. Chegamos em Itabirito já
anoitecendo. As estradas de Minas são calcadas em montanhas e rochas. O que
confere justamente o ar especial deste estado tão particular.
Acima: acho que vi um Polock.
Abaixo: Mapa do Caminho Real, que vem de Diamantina e passa por Ouro Preto. Acima: trecho de terra até Bichinho, Tiradentes.
Acima: detalhe Igreja de São Francisco de Assis; abaixo, concorrência de Igrejas; Nossa Senhora do Carmo à direita.
Abaixo: Capela de São José. Acima, Basílica de Nossa Senhora do Pilar.
Acima: medalhão barroco da Igreja de São Francisco de Assis (Aleijadinho); abaixo visão vertical na frente da Igreja.
Detalhes da fachada da Igreja acima; abaixo Minas de Ouro.
Acima: panorâmica da Igreja Santa Efigênia, dizem ser construída a pedido de Chico Rei. Abaixo, sequência de fotos da Congada e procissão dos pretos de São Benedito.
Igreja de Santa Efigênia acima; abaixo foto com o prefeito de Ouro Preto.
Acima, nosso guia Majela no restaurante "O sótão";
Dia 08. 09/Janeiro. O último dia em Ouro Preto já tinha o ânimus da saudade preventiva. Sabíamos que iria ser de despedida e portanto não fizemos muitas coisas. Preferimos curtir o centro, comprar alguns badulaques e camisetas. Sempre gosto de comprar uma camiseta do local que viajo. Comprei em uma pequena loja na avenida que desemboca na praça Tiradentes. O resumo da ópera desta segunda-feira foi: 1 passeio de compras pelas avenidas principais de Ouro Preto; 2 encontro com a casa de Tomás Antônio Gonzaga, com uma varanda bem em frente à ferinha de artesanato de Pedra, com uma bela panorâmica da Igreja São Francisco de Assis. 3 Visita à Igreja de Nossa Senhora do Carmo, bem ao lado do museu da Inconfidência. Belíssima, de traço Rococó (medalhão decorativo externo), mas com grande riqueza interior; altares laterais belíssimos, cheios de talhe e precisão barroca. 4 passagem de tempo na Praça Tiradentes, subindo no marco central da Praça, onde provavelmente foi pendurada a cabeça de Tiradentes. (que sumiu logo depois).
Matriz de Santo Antônio; pura riqueza; abaixo Medalhão Barroco da fachada.
Dia 10. 11/Janeiro. Neste dia ficamos combinados de fazer um city tour junto com os nossos amigos Geones e Silvana. Conhecemos a cidade em vários pontos, incluindo casas tombadas pelo patrimônio histórico. Subimos um ponto alto da cidade e fizemos fotos sensacionais. Encontramos um casarão antigo, na esquina da pequena ponte estreita; este casarão exalava um perfume especial de seus jardins. Almoçamos em um restaurante interessante em Tiradentes. Lá nos foi apresentado o “Ora pro nobis”. Mais uma iguaria mineira. No resto da tarde caminhei até o museu das duas rodas, motos antigas; mesmo fechado, foi possível ver algumas motos. No caminho fiquei sabendo que existe em Bichinho, pequeno distrito de Tiradentes, um museu do automóvel muito interessante. Peguei o carro e fui com o Pedro Henrique. Museu sensacional; muitos carros excepcionais em duas amplas salas; a segunda sala foi um sonho; década de 40 e 50 com seus Ford e Chevrolet. Máquinas. Além das pérolas dos anos 60; pérolas americanas. (farei uma postagem especial sobre os carros). O “Museu do automóvel da Estrada Real” está em um trecho deste caminho que liga as cidades de Tiradentes e Bichinho. Bichinho deve ser uma cidade ótima para comprar artesanato, arte e decoração. Findado o dia, ficamos descansando na praça, andamos de charrete, tomamos sorvete artesanal e curtimos os últimos momentos. Ficamos em dúvida no jantar. Decidimos gastar. Comemos um menu próprio do restaurante, com entrada e sobremesa. Bacana. A noite choveu muito.
Dia 11. 12/Janeiro. Chegou a hora de mais uma viagem. Sairíamos de Minas Gerais e iríamos para São Paulo, especificamente Maresias. Tínhamos agendado um hotel lá, cinco dias. Este dia a viagem guardaria muitas surpresas boas e aventuras no caminho. O Caminho Real seria margeado, onde passaríamos por cidades que antigamente eram pontos da rota do ouro. Cidades como Cruzilia e Caxambu. Mas o ponto áureo da aventura deste dia foi passar na exuberante serra da Mantiqueira, vendo as belezas naturais serranas de cidades como Pouso Alto, Itanhandu e Passa Quatro; já no início da serra sentimos algo acontecer; parecia que estávamos passando por uma chuva, umidade, pingos e nuvens; realmente, estávamos entre as nuvens, lá sobre a serra, na MG 158; a descida não é muito segura, várias curvas descendo a serra estonteante. Belíssimo local para quem é louco por paisagens de carro, incluindo curvas e serras. Ainda tivemos tempo de passar em Aparecida do Norte e conhecer a estrutura e a basílica; construções colossais; terminamos chegando no litoral Paulista, especificamente Caraguatatuba, enfrentando congestionamento na serra e passando a noite até chegar em nossa pousada. Um dia especial.
Acima: acho que vi um Polock.
Abaixo: Mapa do Caminho Real, que vem de Diamantina e passa por Ouro Preto. Acima: trecho de terra até Bichinho, Tiradentes.
Dia 05. 06/janeiro. O tão esperado dia de chegar em Ouro Preto, Minas Gerais. A nossa
Meca Barroca nos esperava. Antes mesmo de chegar na praça Tiradentes, já era
possível ver as majestosas Igrejas Coloniais. Elas são mágicas. A sensação que
temos é a de que elas não se misturam com a arquitetura comum de hoje. Nem ao
menos com os casarões antigos, pois no íntimo destas construções Sacras,
principalmente a Igreja de São Francisco, exalam uma tecnologia mística, a mescla de qualidade e inovação arquitetônica
com o equilíbrio religioso. Além disso, exibem uma entonação militar, uma
espécie de força bélica que sai das suas colunas, coberturas e linhas. Estacionei
diretamente em frente ao Centro de Cultura e local para a compra dos bilhetes
de trem para Mariana. Lá já encontramos o nosso guia, chamado de Majela, que indico pelo grande
conhecimento local e histórico. Ele nos abordou, e mesmo não portando o colete
de Guia oficial, criamos confiança e fizemos os tours com ele. Pegamos as informações turísticas e já compramos os
bilhetes de trem para Mariana. Iríamos à Mariana no dia seguinte e o tour
histórico com o guia por Ouro Preto faríamos no domingo. Tão logo resolvemos os
trâmites iniciais, já fomos visitar o Museu da Inconfidência. Museu
sensacional, que conta muito do processo de extração do ouro, à cobrança de
impostos, o processo político até a insurgência. As instalações originais e a
arte que ele preserva dão ao Museu seu espírito real, determinado pelo fato de
que ali era uma antiga prisão. Depois fomos almoçar em um local que parecia uma
antiga taberna medieval, bem próximo ao Museu da Inconfidência. A comida era
barata e interessante. As coisas mineiras de sempre: frango, carne cozida,
tutu, etc. Depois do almoço fomos à feirinha de pedra, em frente à Igreja de
São Francisco. Bem, esta Igreja merece um capítulo a parte. Um vendedor de
artesanato nos deu uma verdadeira aula sobre a sua arquitetura. O estilo dela é
militar: o medalhão frontal foi elaborado por Aleijadinho; as torres com suas
coberturas imitam canhões e capacetes Mouros. O corpo principal remontam as
ombreiras dos soldados em plena guerra das cruzadas. Além da Cruz militar, em
forma de bainha da espada. Realmente. A portentosa alegoria que a nave da
Igreja ostenta em meio ao pátio dá-nos uma visão quase surreal, de passado
vivo. Para terminar o dia, comprei, em frente à feirinha, uma versão Gótica /
Noir de Ouro Preto de um vendedor ambulante muito interessante. O pequeno
quadro apresenta tons escuros e rosáceos que colidem com a verticalidade das
ruas representadas no acrílico da tela. Ao fim da tarde fizemos a entrada na
Pousada “Inconfidência Mineira” que agendamos pelo Booking.
Dia 06. 07/Janeiro. Então chegado o dia. O dia de andar de trem. Neste dia iríamos
pegar o trem que vai de Ouro Preto à Mariana, cidade próxima menos de 30 km. O
passeio é sempre bem indicado e reflete bem a geologia e geografia Mineira. Chegamos
à estação bem cedo, justamente para conseguir estacionamento. Era sábado, e
sabíamos que muitas pessoas faziam o passeio. Chegamos e encontramos vaga.
Pegamos uma fila leve e já nos acomodamos nos vagões; o trem é bem simples e
trafega em baixa velocidade; ficamos ao lado direito, visto ser o lado que a
visibilidade da serra é maior. O trem iniciou seu trajeto e no resumo da ópera,
indico muito o passeio. Os pontos altos são: o rio que passa paralelo à linha
por uma distância considerável e que desemboca em uma formidável cachoeira; os
túneis que sempre são as cerejas do sundae dos trens; e a grande colina e serra
onde o trem passa margeando, sendo possível ver a parte traseira do mesmo (ou
dianteira, depende de sua posição); a visão é belíssima; chegando em Mariana,
uma das visões iconoclastas e mais interessantes da cidade inteira foi a
acirrada concorrência entre as duas Igrejas: a Franciscana de Terceira Ordem (fechada
por iminência de desabamento) e a Igreja de Nossa Senhora do Carmo. Como sempre
a Franciscana exibe sua cruz militar (que pode ser lida como uma espada
encravada). Do outro lado, a Igreja de Nossa Senhora do Carmo sofreu um
incêndio (1999) em virtude do uso de tintas não apropriadas para a sua reforma.
Este paço ostenta o único pelourinho real, que nem ao menos em Salvador tem. O
pelourinho significa a presença do Estado na figura da Monarquia, da Igreja e
do Direito; completando este espaço magnífico temos a antiga casa do Governo,
prédio de onde se pode fotografar uma panorâmica magistral das duas Igrejas.
Lembrando também que na chagada à Mariana temos a Especial Estação de trem. Ela
é minimalista, mas ostenta um cavalo a vapor “skoda” 1949, de beleza colossal.
Retornamos de Maria Fumaça às 16 horas. Chegando em Ouro Preto ainda deu tempo
para explorar outras igrejas especiais da cidade. Destaque para a primeira
localização especial: Nossa Senhora do
Pilar. Encontramos a Igreja, mas não foi possível entrar. Ela estava
fechada e preparada para festejos do Domingo. Sua parte externa é menos
elaborada que as de linha Franciscana. Mas, como é de Linha Barroca
extremamente portentosa, exibe 400 kg de ouro e ornamentos de talhe especial. Saindo
dali, fomos passear na outra Igreja de São Francisco, que está localizada em
uma região bem elevada. Magnífica Igreja, claro que colorida com as cores opacas,
o medalhão, as torres em forma de capacetes. Pelo seu isolamento, torna-se uma
Igreja para ser contemplada ao cair da tarde, claro que com reservas de
segurança. Em busca da Capela de São José, encontrei o cemitério onde está
enterrado o Escritor Bernardo Guimarães. Que achado especial. Sensacional. Importante
frisar que a capela de São José era um importante centro de reunião política,
onde após os encontros religiosos ocorriam comícios nas suas sacadas. E por
fim, saímos em busca da Igreja de Nossa Senhora do Rosário, no centro de Ouro
Preto ou também chamada de Igreja dos Pretos. Arquitetura original,
circularizada, oval, única no Brasil. E uma das únicas do mundo. Merece uma
olhada.
Acima: detalhe Igreja de São Francisco de Assis; abaixo, concorrência de Igrejas; Nossa Senhora do Carmo à direita.
Abaixo: Capela de São José. Acima, Basílica de Nossa Senhora do Pilar.
Dia 7. 08/Janeiro. Neste dia iríamos fazer o tour
guiado pelas Igrejas. Desde logo pegamos o Majela, nosso guia, e nos guiamos
diretamente para a joia da Coroa. A
Igreja esplendorosa de São Francisco de Assis. Primeiramente é a terceira ordem
de São Francisco. Ou seja, uma ordem aberta aos leigos, àqueles interessados em
participar da comunidade / sociedade Católica. Em segundo lugar, acho a Igreja
mais bela; um misto de força e intensidade, principalmente das formas decididas
e avançadas. O que anteriormente nos classificaram como estilo Militar. Uma vez
lá dentro, pudemos presenciar vários marcos avançados no Barroco tardio
Brasileiro: primeiramente a pintura no teto de Mestre Ataíde, o pai de
Aleijadinho. Magistral. Com efeito em três dimensões e a famosa ilusão de
ótica, onde dependendo do ângulo que olhamos, as figuras aparecem e
desaparecem. O teto nos dá a ideia de infinito. Nestas pinturas do Mestre
sobressaem a verdadeira essência Barroca: a crítica oculta na linguagem, ou uma
espécie de metacrítica, onde o objeto está inserido não no enunciado, mas na
enunciação. Em outras palavras, o conteúdo comunicado é religioso, mas nas
minúcias da linguagem, escondem-se a transgressão dos artistas que fazem a arte
para as elites, mas se sentem excluídos. Como exemplo temos a quantidade enorme
de anjos negros. Ou de tez morena; ou ainda esculpidos em madeira por
Aleijadinho, com o formato africano de face e traços. Um outro ponto
interessante nestas igrejas é a porta falsa, ou segunda porta, que veda parte
da visão, dando sensação de deslumbramento e arrebatamento; por outro lado,
podemos interpretá-la como a separação do mundo divino e profano. Enfim, todo o
talhe do altar, a riqueza de detalhes na madeira e pedra, o medalhão central, faz
desta Igreja uma das minhas favoritas; não podemos esquecer do caprino cercado
de mistério na fronte da igreja, designando uma simbologia mística. Ela é
considerada pelo Iphan a sétima maravilha portuguesa no Mundo. Saímos dali e
fomos para uma mina de Ouro. A mina 13
de Maio. Nela pudemos conhecer um pouco do processo de extração e,
principalmente, o sofrimento do escravo que explorou e enriqueceu Portugal e
sua megalomania. Segundo informações locais, Portugal foi toda enriquecida com
o metal dourado de Ouro Preto. Indico esta mina, pois sentindo a claustrofobia
de seus túneis, podemos sentir o sofrimento humano que ronda nossa colonização.
Ali tivemos um contato especial. E só a sorte podia nos reservar; era o dia das
procissões religiosas dos negros, principalmente calcadas em toda a
manifestação do Congado, a dança e representação africana no Brasil, que
mistura Catolicismo com ritos culturais da África. Foi uma emoção indescritível
ver a procissão com seus tambores e percussão em plena atividade, as vestimentas
e as representações em pleno vapor. Na dança atribuída a Chico Rei, escravo
mitológico de Ouro Preto, podemos sentir a contra-cultura afro em rebelada às
imposições da cultura branca católica portuguesa. Depois subimos à Igreja de
Santa Efigênia dos Pretos; (dizem que ela foi financiada pelo Chico Rei; um
escravo negro que veio por engano, tendo em vista que ele era rei na África;
aqui ele juntou dinheiro e comprou sua própria mina). Uma igreja simples, mas
em uma posição sensacional, sobre as escadarias e uma visão belíssima de Ouro
Preto. Dentro desta Igreja pudemos visualizar o sincretismo religioso: símbolos
africanos e de sua religiosidade. Búzios e camarões, símbolos praianos e afros,
desdobrados na sacristia católica, além de papa e padres mulatos. Merece uma
olhada de perto. Depois dali fomos em mais uma mina, desta vez na mina Du Veloso. Esta mina era muito próxima do
hotel. Praticamente quase abaixo dele. O que ela nos trouxe de especial foi a
técnica de mineração, diferente da primeira, aqui tínhamos o auxílio da água.
Por fim, nos encaminhamos para a última Igreja, e talvez a considerada mais
rica. A Igreja Nossa Senhora do Pilar.
Considerada uma das mais ricas Igrejas Barrocas do Brasil, apresenta riqueza de
detalhes em seu interior. Tanto que a visitamos duas vezes; na segunda-feira
passamos o tempo dentro dela, saboreando seus detalhes infinitos, típicos do
Barroco. Primeiramente ela apresenta um altar deslumbrante, coroado de cristais
que dão ideia de arrebatamento divino; a partir do por do sol, por meio de um
grande espelho frontal que filtra a luz, ela é invadida por uma luminosidade
mágica. Seus altares laterais são ricamente talhados e adornados. Detalhe para
um santo pisoteando um bebê negro. Interessante que não encontrei esta
informação em local nenhum. Mas lá é possível ver e crer. Novamente símbolos
místicos, como triângulos, olhos e caprinos. Em sequência, já um pouco
cansados, concluímos o passeio na famosa casa de fundição, onde o ouro era
derretido e convertido em barras; no subsolo desta casa, era possível conhecer
uma senzala verdadeira, onde os Escravos eram mantidos para a venda;
horripilante; por fim, já era hora do almoço e procuramos selecionar um bom
restaurante para tal empreitada. Por indicação do guia fomos ao restaurante
chamado “O Sótão”. Restaurante bacana, com bom nível culinário e acima da média
dos restaurantes que já havíamos passado. Terminamos o dia passeando
tranquilamente por Ouro Preto, tomando café na nossa padaria de estimação, em
frente ao Chafariz de Cláudio Manuel da Costa (inclusive foi filmado O
Aleijadinho). Quase todos os dias fomos a essa padaria; ela é uma padaria sem
badulaques turísticos, voltada ao público local, o que a torna com um bom preço
e qualidade. Indico-a em casos de pouca grana para alimentação, principalmente
em cafés da tarde e jantares. Este dia foi emocionante e repleto de realizações
e também conclusões: o quanto a coroa portuguesa levou de nosso ouro; o quanto
as comunidades religiosas construíram a imagem forte da Igreja Católica a
partir de construções gigantes; e por fim, o quanto o trabalho escravo foi
crucial para a consolidação de nossa cultura, confirmando tanto sofrimento e
dor que a nossa história carrega perante a escravidão negra.
Acima: medalhão barroco da Igreja de São Francisco de Assis (Aleijadinho); abaixo visão vertical na frente da Igreja.
Detalhes da fachada da Igreja acima; abaixo Minas de Ouro.
Acima: panorâmica da Igreja Santa Efigênia, dizem ser construída a pedido de Chico Rei. Abaixo, sequência de fotos da Congada e procissão dos pretos de São Benedito.
Igreja de Santa Efigênia acima; abaixo foto com o prefeito de Ouro Preto.
Acima, nosso guia Majela no restaurante "O sótão";
Dia 08. 09/Janeiro. O último dia em Ouro Preto já tinha o ânimus da saudade preventiva. Sabíamos que iria ser de despedida e portanto não fizemos muitas coisas. Preferimos curtir o centro, comprar alguns badulaques e camisetas. Sempre gosto de comprar uma camiseta do local que viajo. Comprei em uma pequena loja na avenida que desemboca na praça Tiradentes. O resumo da ópera desta segunda-feira foi: 1 passeio de compras pelas avenidas principais de Ouro Preto; 2 encontro com a casa de Tomás Antônio Gonzaga, com uma varanda bem em frente à ferinha de artesanato de Pedra, com uma bela panorâmica da Igreja São Francisco de Assis. 3 Visita à Igreja de Nossa Senhora do Carmo, bem ao lado do museu da Inconfidência. Belíssima, de traço Rococó (medalhão decorativo externo), mas com grande riqueza interior; altares laterais belíssimos, cheios de talhe e precisão barroca. 4 passagem de tempo na Praça Tiradentes, subindo no marco central da Praça, onde provavelmente foi pendurada a cabeça de Tiradentes. (que sumiu logo depois).
Conclusão
sobre Ouro Preto. É uma cidade mágica, representante de nossa história
colonial, de nossa arte e arquitetura mais valorosa, da força da Igreja
Católica entre nós; é um retorno ao tempo, com a possibilidade de contato com a
energia viva de tempos imemoriais. As Igrejas brotam na paisagem morrada como
imensas criações surreais, formas gigantescas do poder do homem, da arte e da
fé. Não importa as suas crenças e fé, Ouro Preto é um esforço arquitetônico na
busca de materializar a presença divina na terra.
Abaixo: sacada da casa de Tomás Antônio Gonzaga; acima, panorâmica da Igreja São Francisco de Assis.
Abaixo: medalhão principal da Igreja Nossa Senhora do Carmo; lindíssimo;
Abaixo: sacada da casa de Tomás Antônio Gonzaga; acima, panorâmica da Igreja São Francisco de Assis.
Abaixo: medalhão principal da Igreja Nossa Senhora do Carmo; lindíssimo;
Dia 09. 10/Janeiro. Neste dia iríamos seguir viagem. Olhar pelo retrovisor e ver as
últimas Igrejas e chegar em Tiradentes.
Deste ponto iríamos entrar em outro campo histórico: a rota real; iríamos
margear a antiga Estrada Real, onde muito ouro foi transportado de Ouro Preto
até o litoral, Rio de Janeiro. Entre estas cidades encontramos a cidade onde
residiu por muito tempo Tiradentes. Paramos para uma foto, mas não adentramos.
O primeiro objetivo da viagem era comer o “melhor rocambole” do Brasil, em
Lagoa Dourada. A cidade fica depois de Ouro Branco, onde vi mais uma
sensacional Igreja Barroca. Paramos no famoso rocambole e sentimos a tradição.
A iguaria é excelente, no entanto o mais importante é o conceito e a fama. Chegamos
em São João Del Rey, mas cortamos por uma rota externa; e foi uma grande
experiência; passamos por um trecho de pedra onde passa a legítima Estrada
Real; nela encontramos um balneário ladeado de pedras e uma imensa
identificação da Estrada. Chegando em Tiradentes, não perdemos tempo: demos uma
explorada de carro, indo até a antiga estação de Trem e já reconhecendo a
presença de um belíssimo museu de motos. Pena que o museu só abre em datas
específicas; Encostamos o carro e sentimos a vibração turística da Cidade;
energia em alta voltagem; turismo chique em bares, lojinhas e pessoas; seguimos
direto para a joia a coroa. A majestosa Igreja Matriz de Santo Antônio.
Espetacular. Entrada magnífica e posição geográfica invejável; vista
maravilhosa das montanhas; interior deslumbrante. Mais rica que a Igreja Nossa
Senhora do Pilar. Ouro em cântaros, moldado na massa que compõem a cobertura do
altar; temas ultramarinos em todos os trabalhos Barroco e Rococó. O Barroco é
de estilo nacional português. Mas o que vemos é a força do Rococó em sua
intensidade máxima. Contratamos um guia que nos deu preciosas informações
artísticas, incluindo a história do famoso e belo órgão musical que fica sobre
o coral, um dos únicos no mundo. Saímos felizes e prontos para procurar um
local de hospedagem. Eis que encontramos uma pousada bem localizada, em um
prédio muito interessante, com garagem. A pousada “Grande Casa”. Combinamos o
valor de 400 reais os dois dias. Logo após deixarmos o carro, ficamos na praça
curtindo a energia turística daquele local, fruindo o momento especial. Mais
tarde encontramos amigos de Cacoal, Geones e Silvana, e saímos para tomar umas
cervejas Backer no “Barouck Chopp Beer Café”. Tomamos a recém apresentada / amiga
“Pele Vermelha” e “Capitão Senra” .
Dia mais que especial.
Matriz de Santo Antônio; pura riqueza; abaixo Medalhão Barroco da fachada.
Dia 10. 11/Janeiro. Neste dia ficamos combinados de fazer um city tour junto com os nossos amigos Geones e Silvana. Conhecemos a cidade em vários pontos, incluindo casas tombadas pelo patrimônio histórico. Subimos um ponto alto da cidade e fizemos fotos sensacionais. Encontramos um casarão antigo, na esquina da pequena ponte estreita; este casarão exalava um perfume especial de seus jardins. Almoçamos em um restaurante interessante em Tiradentes. Lá nos foi apresentado o “Ora pro nobis”. Mais uma iguaria mineira. No resto da tarde caminhei até o museu das duas rodas, motos antigas; mesmo fechado, foi possível ver algumas motos. No caminho fiquei sabendo que existe em Bichinho, pequeno distrito de Tiradentes, um museu do automóvel muito interessante. Peguei o carro e fui com o Pedro Henrique. Museu sensacional; muitos carros excepcionais em duas amplas salas; a segunda sala foi um sonho; década de 40 e 50 com seus Ford e Chevrolet. Máquinas. Além das pérolas dos anos 60; pérolas americanas. (farei uma postagem especial sobre os carros). O “Museu do automóvel da Estrada Real” está em um trecho deste caminho que liga as cidades de Tiradentes e Bichinho. Bichinho deve ser uma cidade ótima para comprar artesanato, arte e decoração. Findado o dia, ficamos descansando na praça, andamos de charrete, tomamos sorvete artesanal e curtimos os últimos momentos. Ficamos em dúvida no jantar. Decidimos gastar. Comemos um menu próprio do restaurante, com entrada e sobremesa. Bacana. A noite choveu muito.
Dia 11. 12/Janeiro. Chegou a hora de mais uma viagem. Sairíamos de Minas Gerais e iríamos para São Paulo, especificamente Maresias. Tínhamos agendado um hotel lá, cinco dias. Este dia a viagem guardaria muitas surpresas boas e aventuras no caminho. O Caminho Real seria margeado, onde passaríamos por cidades que antigamente eram pontos da rota do ouro. Cidades como Cruzilia e Caxambu. Mas o ponto áureo da aventura deste dia foi passar na exuberante serra da Mantiqueira, vendo as belezas naturais serranas de cidades como Pouso Alto, Itanhandu e Passa Quatro; já no início da serra sentimos algo acontecer; parecia que estávamos passando por uma chuva, umidade, pingos e nuvens; realmente, estávamos entre as nuvens, lá sobre a serra, na MG 158; a descida não é muito segura, várias curvas descendo a serra estonteante. Belíssimo local para quem é louco por paisagens de carro, incluindo curvas e serras. Ainda tivemos tempo de passar em Aparecida do Norte e conhecer a estrutura e a basílica; construções colossais; terminamos chegando no litoral Paulista, especificamente Caraguatatuba, enfrentando congestionamento na serra e passando a noite até chegar em nossa pousada. Um dia especial.
Vídeo Clipe abaixo:
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Ps: O shopping que vocês devem ter ido, se for no centrão mesmo e mais ou menos próximo do mercado municipal da Augusto de Lima, é o Shopping Cidade, o mais popular da cidade, pois fica bem no centro e tem várias entradas em diferentes ruas.